quarta-feira, 12 de setembro de 2012
Reflexão sobre as palavras...de amor
Palavras de amor
As palavras de amor contidas numa canção, num e-mail, numa carta ou simples manifestação verbal, só tem sentido para quem não tem medo de amar e nem vergonha de revelar os seus sentimentos.
Fernando Pessoa disse que “todas as cartas de amor são ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem ridículas”.
Ao ouvir uma canção romântica, o coração sente o canto como se fosse o protagonista da canção. Assim é ao assistir um filme ou ler um artigo falando de amor, o corpo se transforma e os hormônios nos conduzem, em diferentes formas de manifestação.
As palavras de amor enviadas para alguém, não traduzem notícias e nem são de forma eruditas, são de conteúdo conhecidos e na maioria das vezes em forma de jargões. Quem enviou penetra no coração do outro e os dois podem viver significativas sensações (desde que correspondidos os sentimentos) a partir da realidade de estarem tocando o mesmo papel ou a mesma emoção.
Há uma lógica explicita na manifestação do amor, mais do que palavras ou formação de imagens, o autor deseja o encontro, para revelar-se no abraço e consumir-se em prazer ao saber e sentir que corações diferentes pulsam no mesmo corpo.
É impossível entender com a razão as manifestações de amor; como explicar com palavras as sensações?
O registro de uma emoção não contém a excelência do seu real significado. A palavra é o veículo que transporta um desejo, que é aproximar quem neste momento está distante. Mesmo reducionista, as palavras carregam uma força transcendente, que vão entre as possibilidades de construção ou desconstrução, que aproxima e afastam pessoas, que exaltam ou punem condutas, que libertam ou escravizam para a conquista dos momentos de felicidade. Falam do desconforto da distância e a diminuem por alguns momentos, caracterizam a importância de encontros renovados.
As palavras de amor são atemporais, convenientes ou não, conforme a vontade das pessoas envolvidas. Tem a mágica possibilidade de fazer o tempo parar, para nos sentirmos especiais e acolhidos, e o melhor dos sonhos se realizar: “sendo alguém para alguém“.
Estar com alguém que temos afinidade é um dos idéias para ser colimado, o outro é permitir-se estar temporariamente só. A solidão é o melhor companheiro para ouvirmos e experimentar as transformações, físicas e mentais, que as palavras de amor nos ocasionam; é o clímax das realizações: amar e sentir-se amado.
Existem alguns sonhos que jamais gostaríamos de ser acordado e situações que gostaríamos que fossem eternizadas. Simbolicamente representada pela configuração estrelar que hoje vemos no céu, que foi formada há muitos anos atrás e só agora nos beneficiamos com a sua contemplação.
É complexo e difícil suportarmos as sensações produzidas pelo esquecimento ou falta de compleitude. Na maioria das vezes somos obrigados a conviver com a lembrança daquilo que já foi, com a possibilidade de reproduzirmos boas sensações com a lembrança, mas, logo somos chamados à realidade.
Em cada um de nós revela-se mais presente o que não temos e nos falta, do que aquilo que efetivamente temos. Por isso buscamos sempre resgatar as imagens e sensações dos “paraísos perdidos” e projetá-los como uma necessidade de conquista, considerando esta a única forma para bem vivermos. Estranho e prejudicial é este comportamento, vivendo uma sensação nostálgica (nem sempre um bom fato, pois pode ser considerado bom porque já foi) e projetando uma história para viver que nunca mais se repetirá como imaginamos. Somos agora outras pessoas, vivendo em outras circunstâncias.
A tecnologia possibilita diferentes maneiras de nos comunicarmos e, nem sempre é possível nos emocionarmos como desejamos. Mas pode ocorrer com outra intensidade e causar uma dimensão não esperada, até melhor se nos disponibilizarmos; sem faltar o estado de solidão propício e seus mistérios.
Mas as relações cibernéticas podem ser fiéis? Como ser autêntica uma pessoa se falta um olhar para dentro de si?
Qualquer relação pode ser autêntica e fiel.
Os admiradores de “jardins” conseguem perceber muito além do “jardim”.
É isto que nos falta sempre e no dia a dia, a percepção intima da nossa vontade e suas conseqüências, para nos vestirmos de coragem e corrermos riscos, até de ser feliz.
E com medo de relacionamentos que nos causariam prejuízos mais do que vantagens, a solidão não é mais um companheiro ocasionalmente ideal, pois falta o motivo principal: não escrevemos e nem recebemos mais as cartas “ridículas” de amor.
As palavras parecem servir para descrever as postagens nas redes sociais, daquilo que nem sempre somos, e gostaríamos que assim as pessoas construíssem uma imagem de nós, sempre positiva e invejada.
A vida é feita de momentos, estes nem sempre oportunos. As vezes achamos que todos vivem bem, menos nós. O arrebatamento divino já aconteceu e fomos deixados para trás.
Temos dois tipos de vida, aquela que anunciamos e aquela que conseguimos viver.
Gosto das cartas de amor e das canções também. Eu as leio ou ouço quando desejo, ou tenho necessidade, sem hora marcada; diferente do telefonema que tem hora marca por um dos envolvidos, aquele que liga. As atitudes não se excluem, se complementam.
O desejo do amor é a presença sensível de uma felicidade invisível.
Interessante os poetas, escrevem e se revelam de uma forma que as vezes parece ser propositalmente contraditória. Alguns são intencionalmente mentirosos e brincam com as palavras, nunca com os sentimentos.
Numa dualidade sobre o comportamento das pessoas, Fernando Pessoa, que no primeiro momento possibilita-nos acreditar que apenas as pessoas ridículas escrevem palavras de amor, discorda de si mesmo quando assina como autor Alvaro de Campos: “mas afinal, só as criaturas que nunca escreveram coisas de amor é que são ridículas”.
Acrescentaria eu, as que nunca cantaram sobre o amor e dançaram qualquer tipo de dança, com quem amam, também são ridículas?
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário