segunda-feira, 9 de julho de 2012

Vivendo a minha espiritualidade

As palavras de Millor “o homem nasce original e morre plágio”, possibilitou-me a reflexão sobre a necessidade em capacitar-me para rever as minhas atitudes, diante dos equívocos. Considerei alguns dos meus paradigmas: - preciso ter coragem para o enfrentamento das diferentes situações; - é fundamental entender que a vida é um processo caracterizado por diferentes fases; como se sucedem, sucessivamente, perdemos a noção dos seus limites; - devo ter delicadeza com as interpretações dos fatos e as palavras usadas nos diálogos, comigo mesmo e com os outros; - mesmo perdendo a acuidade dos meus sentidos, tenho que me tornar mais sensível aos sentimentos e às minhas necessidades, relacionando a forma de viver com o desejo, vivendo bem o tempo que ainda me resta; - tenho que exercitar a possibilidade de estar atento e ser sensato nas escolhas, desenhando e praticando um equilíbrio racional no convívio com esses meus desejos; - sempre é bom estimular o uso da paciência diante das dificuldades, naturais e as oferecidas pelas pessoas; bem como a tolerância diante das diferenças e, a indiferença com aquilo e aqueles com quem não desejo mais conviver, nada acrescentam. É o caminho de volta para a originalidade? Quero romper com a condição de tornar-me, simplesmente, um plágio. Passei, como outros, grande parte da minha vida na “rua”, buscando a realização profissional e financeira, no atendimento de um chamado vocacional e a necessidade de “fazer” dinheiro para financiar a vida da família. Nem sempre nos damos conta da forma que estamos existindo, pois, a necessidade é determinante e somos reféns das contas para pagar. Fui o que preciso era ser; diante da pouca liberdade de escolha, sendo guiado pela vontade das conquistas matérias, na esperança de comprar o prazer, como oferta de mercado. Diferente do que sou agora. A vida é um processo constante de novos nascimentos, como preconizado por Eric Fromm, acrescentando que a maioria das pessoas morrem, sem, efetivamente, nunca terem nascido. A vida me disponibiliza a oportunidade de completar uma fase e iniciar outra, de forma conseqüente. Estou no caminho de uma nova jornada, de volta para o meu interior (já que não posso mais voltar ao útero materno) aonde tenho uma vida intensa, de espiritualidade, em sintonia com o meu coração, que pede ações que proporcionam a excelência na conquista do prazer. Como tudo que é vida, se transforma, se renova, com novas possibilidades. Vivo outro sentido na vida, em conexão com outras coisas e outras formas de me relacionar, comigo mesmo e com as pessoas. Nessa busca e encontros, a alegria é mais presente. O coração, como sede dos sentimentos, clama por alívio da rotina diária e a vida nas corporações. Ele quer sentir a lembrança nostálgica da paz dos primeiros tempos, o original da criança que um dia eu fui. Quero esquecer o muito que foi prometido pelo ideal de sociedade e pelas religiões, e, sempre lembrar do pouco que me proporcionou o mundo material. Caminhei distante e não encontrei um porto seguro. Eu sou o abrigo e guardião da criança, maravilhosa, que existe em mim. “Viver é rasgar-se e remendar-se”,com este aforismo de Guimarães Rosa, sigo em frente. Estou determinado a vencer. A conquista me consola mais que um ombro amigo. Quero ser o protagonista da minha história e não ser personagem, coadjuvante, nas histórias mundanas. Estou de volta para casa, redescobrindo os meus valores e estabelecendo nova interpretação para a última fase da minha vida. O idoso que tem medo de deixar a vida (podemos ter “pena”) é tão tolo quanto um jovem que tem medo de abraçá-la. A minha originalidade “cheira a guardado” mas ainda vive, de braços estendidos, esperando por mim. Se a vida é uma invenção, como disse Ferreira Goular: reinvento a minha vida. Construindo-a de forma singular e pessoal, para chamá-la de própria. O faço de forma silenciosa e consistente, reflexiva e colaboradora, questionadora e sossegada, livre e gestora do bem estar. Estou aprendendo a lidar com os meus fantasmas, herdados (pelo patrimônio genético e culturais) e adquiridos (nas relações sociais e religiosas). Freud disse que um homem livre da religião tem uma oportunidade melhor de viver uma vida mais normal e completa. As convicções sociais e religiosas não me causam mais prejuízos. Livrei-me das ideologias impostas, manipuladas e praticadas para a manutenção de sistemas, pois, impossibilitam o encontro das pessoas consigo mesmas, de forma livre e real. Tenho, por necessidade, consciência e clareza naquilo que estou buscando. Estou quieto e confiante, agradecido pelos resultados das experiências que possibilitaram aceitar e gostar da pessoa que me tornei. Compreendo e respeito a minha história. Bernard Shaw disse que a coisa mais importante da vida é o dinheiro. Segundo Rubem Braga, não pelo “apetite social”, mas que, a grande vantagem de ter dinheiro é não precisar pensar, a todo momento, no dinheiro. Faz ainda referência que os homens públicos agem sem sentimentos públicos e, a maioria dos homens ricos são “pobres diabos” pelo valor equivocado que fazem do dinheiro. Mais do que conforto, o dinheiro “compra” segurança. Penso na forma de ganhar e gastar. “Viver é a coisa mais rara do mundo, A maioria das pessoas apenas existe” Oscar Wilde. Existe “para que“? Tão bom viver o dia a dia....a vida assim...jamais cansa...viver tão só o momento, como estas nuvens nos céus....Canção do dia de sempre de Mario Quintana. Disse ainda: “A arte de viver é simplesmente, a arte de conviver...simplesmente disse eu? Mas como é difícil“. Esse é um dos desafios para viver bem. É difícil, mas a conquista é expressiva, essa vitória tem um significado positivo, para outras conquistas e sensações. “É difícil conviver com outras pessoas porque o calar é difícil” Nietzche. Se o calar as vezes necessita de isolamento, deve-se buscar o melhor. “Se é impossível viver só, mesmo que temporariamente, nasceste escravo” disse Fernando Pessoa. Volto hoje à alguns lugares da minha infância, como antigamente: feliz. Antes de mãos dadas com os meus pais, agora com a criança que existe em mim; somos parceiros que caminham encantados, pelo encanto de ser o provedor, protetor e protegido de mim mesmo. Em outros tempos, me surpreendia querendo que as pessoas existissem dentro de um padrão de comportamento que considerava normal e melhor para a sociedade. Agora, entendo o porque da pluralidade e os diferentes fatores que podem ocasionar, eu as aceito como são, me considero livre para escolher com quem quero me relacionar. Egoísmo não é a condição de escolher como viver e sim querer que os outros vivam como nos interessa. Lembrando de Renato Russo afirmo que: mesmo não sabendo para onde irei amanhã, não por estar confuso mas, para estar bem, aprendi a viver um dia de cada vez e me beneficiar dos prazeres do hoje. Disse Drumond: “clara manhã, obrigado“. O essencial é viver bem. “Apressa-te a viver bem e pensa que cada dia é, por si só, uma vida” Sêneca. Quando jovem precisava de pretextos para viver e inventar uma ilusão, hoje basta-me uma razão, como viver em liberdade e promover o meu bem estar. Clamo pela boa vida. O bom na vida é começar, rara são as pessoas que gostam de concluir o que começaram. No terceiro ato da minha vida, tudo parece um recomeço, só que agora em melhores condições. A vida exige começar sempre, a cada instante, agora tenho a vantagem que já comecei o começo, sinto-me mais confiante, para viver o que disse Goethe: “assim que você confiar em si mesmo, você saberá como viver”. Isso é a essência da liberdade. Nos primeiros atos da minha vida, realizados no teatro prolixo de toda existência, vivi amarrado às pessoas, à carreira profissional e coisas (para me sentir vivo, de que adiante o dinheiro se não for para consumir?). Explicito agora o que propôs Einstein: “se queres viver uma vida feliz, amarra-te a uma meta e não às pessoas e nem às coisas“. Minha meta é promover e desfrutar do bem estar, influenciando, positivamente, outras pessoas, desde já. “A felicidade não está em viver, mas em saber viver. Não vive mais o que mais vive, mas o que melhor vive” Gandhi. Não chorei, nem sequer lamentei, ao findar e despedir-me dos outros atos (fases da minha vida), pois, segundo Richard Bach, as fases anteriores foram constituídas de formalidades obrigatórias, do politicamente correto, para que acontecesse “desta forma” nesta fase atual (o terceiro ato). Um dos principais eventos da vida, em função de emoções e satisfações significativas, é o reencontro comigo mesmo. É o encontro com o original para excluir a possibilidade de ser apenas um plágio. Em qualquer fase e momento da vida, irei enfrentar dificuldades. Mas, o modo como encarar os problemas é que faz a diferença na forma de viver, justificando Benjamin Flankin. Assim consigo viver hoje, como gostaria de viver eternamente, se fosse preciso. “ Penso agora como Machado de Assis, que “a arte de viver consiste em tirar o maior bem do maior mal”; este é um aprendizado que pratico na minha forma de pensar e agir, para sentir melhor o mundo. Entendo hoje a ansiedade de outros tempos e dela me libertei, pensando nas palavras de Fernando Sabino, “que o diabo desta vida é que entre cem caminhos, temos que escolher apenas um, e viver com a nostalgia dos outros noventa e nove”. O homem é um ser eternamente insatisfeito. Agora eu sei, que o mais fundo da existência humana está na superfície, da lógica do conhecimento. Gosto de estar envelhecendo. Neste processo, de transformação e aprendizado, sei que envelhecer, além de poder representar liberdade e possibilidade de conquista do bem estar, é a única maneira, até agora conhecida, de vivermos mais tempo, sempre pensando em ofertar qualidade a este tempo. As vezes, o fato de saber que o único animal que tem dificuldade em viver em “rebanho” é o ser humano (como diria Millor: o macaco que não deu certo), fico inquieto, não por muito tempo, simplesmente aceito. Não tenho tempo para mais nada, ser feliz (estar bem) me consome o tempo todo (Clarice Lispector). Hoje, faço adaptação das palavras de Dostoievski “o segredo da existência não consiste em viver, mas em saber “para que” se vive”. Vivo em função de me alegrar, acolhendo e entusiasmando as pessoas com quem convivo, considerando o que aprendi com Hipócrates e Sócrates: “o caminho mais grandioso para vivermos neste mundo, é procurar ser a pessoa que fingimos ser“... bárbaro! Deixo para trás a opressão de ter uma vida produtiva, o tempo todo, sem o ócio do prazer. Quero me revelar, para ser contemplado por mim mesmo, numa forma livre de viver, realizando alguns dos meus principais desejos, de quem me confesso como eterno aprendiz. Quero terminar o meu tempo, como ser finito e circunstancial, em qualquer momento, sem medo dos mistérios que envolvem a morte, tendo apenas um sentimento: foi bom viver uma bela jornada. Na simples condição de caminhante, percorrendo o meu destino (simbolizado pelo caminho), realizando escolhas e sendo responsável por elas, encontrei diferentes pessoas, que se tornaram minhas companhias, em diferentes momentos. Reconheço a importância de cada pessoa, especialmente você. Com você aprendi e pude me transformar, na pessoa que hoje consigo ser. Nossos momentos foram de alegria, reflexão, conquistas, aventuras e descobertas (o mais significativo entre tudo que é importante). Quando duas mentes se encontram, são como agentes químicos, se houver reação, as duas se transformam, nunca mais serão as mesmas (Jung). Metade mim é descoberta a outra metade é gratidão. Eu existo em você, tanto quanto você existe em mim. Delibero-me vestir-me de prazer como um rei de púrpuras se veste,e, afirmar o que disse Pablo Neruda: “Confesso que vivi”.

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