sábado, 11 de agosto de 2012
Ser ou não ser.....refletindo com os mitos
O mito é considerado a pré-história da ciência. Prometeu e Epimeteu eram irmãos, simétricos (tinham o mesmo tamanho e valor, contundo com entendimentos opostos).
Refletindo com Francis Bacon em sua obra “A sabedoria dos antigos“:
Prometeu, significa em grego, pré-pensador, simboliza aquele que pensa antes de agir, caracterizando a racionalidade. Epimeteu, ao contrário, significa pós-pensador, simboliza aquele que age antes de pensar, é a impulsividade.
Na vida, tudo tem o seu valor e seu preço.
As escolhas são traduzidas em conseqüências. Benefícios acarretam custos. Conquistas implicam em sacrifícios.
As pessoas racionais, como Prometeu, procuram ser prudentes, tem foco no amanhã, são cautelosas, conseguem visualizar o futuro próximo e o antecipam, tornando-se precavidas. Esse comportamento implica em abrir mão de muitos prazeres, ocasionais e momentâneos. As vezes esquecem de suas necessidades, básicas e inocentes, em favor de suposta segurança.
As pessoas impulsivas, como Epimeteu, preferem desfrutar dos prazeres imediatos, sem cálculos financeiros e emocionais. São imprudentes, não se preocupam com o dia de amanhã. Vivem em dificuldades para manter a saúde física e mental, devido opressão pela necessidade em financiar a vida. Para se nutrirem, convenientemente, se alimentam emocionalmente com todo tipo de sonho e esperança, sem conhecimento e fundamentos lógicos.
Freud definiu a felicidade como sendo a gratificação ulterior de um desejo pré-histórico. Depende ela do “ideal de felicidade” dos nossos ascendentes (a cultura das civilizações) e principalmente dos desejos infantis, característicos das crianças. Por isso que a riqueza não é sinônimo de felicidade, o dinheiro não é, em si mesmo, um desejo infantil. O dinheiro é apenas um meio. “A alegria é a prova dos nove” (Oswald de Andrade). Utilizando um sentimento de Shakespeare é possível afirmar: antes dos portugueses descobrirem o Brasil, O Brasil já havia descoberto a felicidade.
Goethe faz referência, de que são inúmeros os exemplos que podemos observar em grupos sociais, relacionando o prazer na satisfação vivida pelas pessoas ao beneficiar-se de coisas simples, de situações que poderiam ser facilmente desprezadas em culturas mais sofisticadas. Relata a sua experiência ao chamarmos, as vezes, alguns povos de preguiçosos, que é na realidade um estilo de vida. Eles criam condições de ser feliz e não apenas de fazer dinheiro. O seu patrimônio, é a forma de viver sem preocupações constantes, e não a necessidade de acumular fortuna ou na conquista do sucesso à qualquer preço. No existir e no “como” realizar o seu dia, consiste o prazer.
Poderá existir alegria na pessoa que pouco possue?
Algumas pessoas necessitam apenas do essencial, para atender as suas necessidades básicas. Conseguem realizar muito do pouco que têm e, ainda, compartilham. Outros carregam inquietações pelo simples fato de existir, desenvolvendo a arte em acumular.
Mais importante do que idealizar um estilo de vida minimalista é não ignorá-lo.
Considero que nem sempre a virtude está no meio. A virtude na arte da ”liberdade” e do “bem estar” depende do conhecimento e da capacidade de fazer a melhor escolha, em ser como Prometeu e Epimeteu, conforme as circunstâncias. É preciso saber administrar esta bipolaridade. Há situações em que é bom ser “racional” e em outras “impulsivo”.
Como na vida nada é certo, então tudo é possível. Somos fortes para mudarmos a nós mesmos e o mundo. Somos fracos, pois podemos morrer á qualquer instante.
As normas são para nos orientar e não, obrigatóriamente, temos que servi-las, o tempo todo. Somos livres e não reféns das regras que nós mesmos criamos.
Não é possível sermos sempre irresponsáveis, como Epimeteu, nem tão preocupado por antecipação e sofredor por coisas que talvez nunca aconteçam, como Prometeu.
Nesta polaridade, o ideal de sabedoria nos obriga encontramos o ponto certo (com acertos, erros, correções) para desfrutarmos das consequencias em sermos prudentes.
Sendo prudentes nos beneficiamos do conforto e dos poderes de termos o controle da situação financeira. Entretanto, este sentimento previdenciário (como sugere a racionalidade de Prometeu), tem que estar dentro de limites, para não perdermos os encantos, deslumbrantes, da aventura, da invenção, da espontaniedade afetiva (que são consequencias da impulsividade de Epimeteu), experimentando a alegria do momento, como se não houvesse amanhã.
Na arte em acumular, as regras são decedidas pela cultura financeira, e, na arte em viver pela busca da realização do prazer, fundamentada no desejo (característica da espécie humana).
As invenções humanas e suas fantasias são complexas e costumizadas. Por isso não existe receitas prontas e nem sugestões generalistas, elas necessitam ser construidas.
O estilo de vida pode ser diferente em cada fase, influenciado pelas circunstâncias e pela vontade de cada pessoa, de como deseja existir, à partir de cada momento.
Há necessidade de ser observada a coerência e a consistência, com o ideal de felicidade escolhido, considerando os “custos” e as “estratégias” envolvidas.
Pessoas diferentes, a mesma pessoa em situações diferentes, implicam em formas diferentes de vida. Os interesses e valores, as preferências e antepatias, como o sabor dos prazeres, variam conforme a cultura e momentos, a vida não é linear.
Temos a possibilidade e o poder de nos construirmos e nos reformarmos, sempre que necessário.
É bom valorizarmos quem conseguimos ser (considerando que fizemos o melhor possível), para nos sentirmos satisfeitos com o que temos, sem nos aborrecermos pelo que não conseguimos ser ou não temos.
A felicidade não se conquista com facilidade, partindo-se do príncipio, que nem sempre sabemos o que desejamos (somos eternos aprendizes do desejo). Será impossível sabermos o que o outro deseja, o que implica na necessidade de dialógos constantes, considerando a pluralidade de ideais de felicidade.
Precisamos nos revisitar, interiormente, para fazermos de novo, uma nova vida.
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