quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O mundo é como vemos, sentimos, imaginamos e acreditamos

Ele se revela através de fatos e sensações pessoais. Ele também é como imaginamos e acreditamos ser. Podemos considerar, que o mundo atual, é o resultado de ações que envolvem: edificações, construções de diferentes formas e culturas, pensamentos nem sempre bem elaborados, ações comprometidas com ideologia nem sempre claras e objetivas, promoção de inventos e utilização de tecnologia... Intencionalmente ou não, estes fatos nos afastam da natureza, das suas circunstâncias e conseqüências, universo este que foi durante milhões de anos o nosso albergue e cenário de vida, nos beneficiando da qualidade do natural e de todo processo espontâneo e organizado da natureza. No processo, sempre existente na vida, fomos nos transformando, até nos tornarmos o que hoje somos e, construímos, gradativamente, o mundo em que vivemos. Neste processo é obrigatório considerarmos a capacidade natural de adaptação do “homo sapiens” até nos tornarmos uma pessoa, e, como ser humano também continuamos a ter uma capacidade de adaptação superior de todos os outros animais. O homem moderno sente-se desafiado pela natureza e busca superá-la; necessitando para tornar-se vitorioso dominar a si mesmo, negando atualmente, pelo pensamento formalizado em padrões, seus sentimentos e paixões. O que importa é vencer, “o que”, “para que”, “como” e “conseqüências” não são considerados como importantes e os fins sempre irão justificar os meios. Deixamos de ser um “animal natural”, para sermos um “animal racional”, chamado de ser humano, independente do processo de humanização. Assim a cultura atual inventa maneiras em escala crescente em nos tornarmos cada vez mais racionais. Gosto da palavra “transformação” e seu significado; gosto também da condição do que nos “tornamos“ considerando meios, circunstâncias e conseqüências; e principalmente, “de que maneira quero existir” e “como conseguir”? O animal racional, o ser humano atual, tornou-se violento, fanático, egoísta, manipulador, competitivo (não apenas pela sobrevivência, mas também pela vaidade da vitória e superação sobre os oponentes, independente da forma). Será exagero dizermos que levou o planeta próximo da exaustão dos recursos naturais e indispensáveis à vida? Interessante, nestes últimos cem mil anos como homo sapiens (o homem que sabe), tentamos nos livrar das características do animal natural, harmonizado, para nos tornamos humanos, e com um olhar histórico sobre as civilizações e manifestações de sociedade, este animal racional tem-se revelado mais cruel do que antes, apesar do trabalho isolado e altruístico de voluntários, em diversos programas de reponsabilidade social. É preciso refletir: o que nos tornamos e gostaríamos de ser? Esse é o melhor processo para a transformação, garantindo um excelente modelo de humanização? Como exercer a própria escolha e inventar uma vida de liberdade, para conquistar uma condição de bem estar mais freqüente? As neuroses bio-psíquicas-sócio-existências nos permitem afirmar que de perto ninguém é normal. Quanta insanidade, de comportamento individual e coletivo! Hoje, a grande maioria das pessoas é obrigada a utilizar algum tipo de medicação ou fazer uso de alguma forma de terapia para suportar os transtornos do dia a dia. O fanatismo ideológico e religioso, sem nenhuma lógica e coerência; o número crescente de pessoas que dependem da utilização de drogas; a violência urbana que já chegou na zona rural com sintomas de requintes; a corrupção sem controle (todo poder tornou-se corruptor, o absoluto é capáz de corromper absolutamente); significativas igrejas e as instituições públicas tornaram-se apenas balcão de negócios; as doenças eventuais tornaram-se crônicas, devido alimentação inadequada, estilo de vida inconveniente e vida sedentária. É bom lembrar que o processo de humanização, independente da forma e conteúdo, nunca termina. O homem é um projeto inacabado, em construção constante (segundo Millor Fernandes uma macaco que não deu certo). Neste processo de sucessivas transformações, para nos adaptarmos às diferentes relações e caracterizar o tipo de vida, surge uma inquietação: quem temos nos tornado, conforme oportunidades e circunstâncias? Para depois termos que responder a duas perguntas que nunca nos abandonam: 1) De que maneira quero e posso existir? Conseqüentemente a (2), o que devo fazer á partir de hoje para construir e manter o meu amanhã? Os legados deixados para as gerações que se seguem, parece nem sempre ter sido o melhor. Nós deixaremos, além da tecnologia e modernidade, várias crises, como a moral, econômica, ambiental, ética, legal....de princípios. A sociedade atual privilegia a conquista, independente do que, para que e do como, citado anteriormente. Nunca estivemos livres do caos sócio-ambiental e financeiro e nem soubemos administrá-los. A vida sem angústia pela sobrevivência, sem sofrimento durante o processo de conquista, sem dor pela perda de pessoas e coisas, sem trabalho para a realização, sem mobilizar as próprias forças para superação, foram apenas promessas não cumpridas, pelas crenças ideológicas e convicções religiosas. É tudo mentira. Nos tornamos um animal racional que ainda sabe, elabora e pensa. O que cada um pode se tornar não é uma resposta única, traduzindo uma proposta coletiva. É individual, no máximo para pequenos grupos sociais, como a família. Cada um escolhe no quer ser e como existir, dentro de oportunidades e circunstâncias. Podemos ser uma máquina complexa de viver ou de fazer dinheiro; de satisfazer-se apenas com o lazer e a aparência ou se encantar com uma vida suficiente e minimalista; de buscar a vitória a qualquer preço ou ser livre para realizar escolhas que possam garantir o prazer.... As vezes nos acordamos nos escombros de uma sociedade que tinha um grande sonho: viver uma vida duradoura, eternizada sem sofrimentos. Algumas pessoas ainda buscam paraísos perdidos, como em filmes. Acredito termos hoje o maior de todos os conflitos: aonde podemos colocar as nossas esperanças? Até mais complicado e significativo do que aceitar a morte como fenômeno natural, para os simples mortais como nós. Como seria viver numa condição eterna? Que comportamento teríamos? O que fazer, quando fazer, para que fazer algo? Que sentido poderá ter? A angústia de ser finito, temporal, me impulsiona para o aqui e agora. Se fosse eterno, sem noção de tempo e referência de momento, adiaria os compromissos, sem determinação imediata para a obtenção do prazer e manutenção do mesmo. Passado para ser recordado, presente para ser vivido, futuro para ser imaginado, não existiriam. A vida nos convida e nos obriga, ao choro e a alegria; aos encontros e desencontros; ao sucesso e fracasso; ao amor e solidão. O recheio da vida é a utopia e a incoerência. Viver é aventurar-se, dançando na corda bamba das incertezas. Estamos condenados a criar, inventando e realizando escolhas para a construção de caminhos e neles encontrarmos o nosso destino. Somos livres e não seres determinados, robotizados, com chip que determina, préviamente, as nossas condutas. Não sabemos quase nada da vida, nem aonde e como chegar a algum lugar, vamos inventando as situações, sem lenço e documentos geográficos, nem históricos, apenas assobiando e cantando, compartilhando a alegria. O que pode justificar uma existência? A resposta é pessoal, inventiva e visionária, cada um acredita como convém ou consegue realizar. Nos organizamos em cima dos nossos defeitos, nunca, jamais, em cima das nossas virtudes. Nesse processo, um dos principais aliados é o conhecimento sobre a brevidade da vida, é a passagem criadora e predadora do tempo, mesmo considerando que ele nos espolia orgânicamente. Temos outros aliados, como a ansiedade devido a falta de alguma coisa, que necessita ser controlada, para isso a vida necessita da nossa participação, de forma útil, para a superação dos transtornos; o gênero humano é formado na ausência do alimento, do afeto, da segurança...e carregamos uma sensação de abandono e menos valia, principalmente os arrogantes e presunçosos. Que loucura, o sofrimento é um aliado, sem ele jamais seriamos vencedores, superando as dificuldades e tudo o que nos impede de experimentarmos bons momentos (a fábula de Phenix explica). A ansiedade, a dor, os diversos tipos de sofrimento nos ensinam que devemos nos preparar, convenientemente, para a batalha, sem desistir jamais. Só a vitória interessa, sem causar danos. Cada pessoa e grupo social, pode inventar mundos melhores. Menos desiguais, pensando na liberdade e bem estar de todos, cada um fazendo o que lhe compete na organização social. Toda pessoa é uma pequena sociedade, aonde desenvolve diferentes personagens. Assim são os animais, que vivem em grupos ou só. Nós os humanos, desaprendemos a viver em matilha e, quem assim desejar, necessita aprender de novo, aonde cada um tam um papel para executar. A matilha é constituida de serviços, tornando-se imperioso primeiro servir para depois ser servido. A moeda que tem mais valor na matilha, ou em qualquer grupo social, é a vida, enquanto existir. Que bom seria, se fossemos estimulados na prática do “pensamento crítico” e “criativo” para o bem comum, construindo uma vida livre, disponibilizando a alegria e o bem estar (vivendo apenas com os conflitos naturais). A principal fonte do sofrimento existencial é a percepção de si e do mundo, melhor seria ignorá-los completamente, como fazem os animais na natureza. Temos que elaborar: o ver para enxergar (as vezes mesmo enxergando nada vemos); o interpretar para agir (assim são os protagonistas da própria vida, os demais são coadjuvantes, quase sempre indesejáveis); o sentir para experimentar o prazer (somos eternos aprendizes do desejo). Quanto parodaxal é a existência do animal racional, pois o que o faz sofrer é o pensamento (o modo de pensar), mas é justamente o pensamento (o padrão construido), que permite superar o sofrimento. Somos o que pensamos ser? “Penso então existo” ou “existo aonde não penso”? O pensamento construtivo, as oportunidades disponobilizadas ou as que fazemos acontecer, as circunstâncias, a vontade e determinação, nos possibilitam conquistar o que desejamos nos tornar, sem ser levado pela vontade dos outros ou do acaso. Conduzo ou sou conduzido? Se for conduzido que seja um fardo leve de ser carregado. O pensamento é o fenômeno que confere dignidade às pessoas. Possibilita encontramos os meios, convenientes, para superarmos as dificuldades, o sofrimento e as dores ocasionadas pelos trantornos. Não há necessidade de fingirmos que o sofrimento não existe. O pensamento é capáz de elaborar a salvação de muitas dores, pois nos possibilta sonhar, de criarmos uma utopia própria, de inventar o que nos convém para o momento, de mudarmos de direção mostrando novos caminhos, e, produzir “ilusão”o principal combustível da vida. É possível acreditar que podemos experimentar a alegria, mesmo existindo o sofrimento. Este sentimento é balizador e pode nos impulsionar a viver bem, livres dos medos, sempre presentes nas nossas vidas. O pensamento positivo é construtivo, é terapêutico por ser tranformador, e nos estimula a conhecer as nossas capacidades interiores e disponbilizá-las como o mais significativo dos aliados. O pensamento não é fixo e nem imutável, ele sempre trabalha, a favor ou contra nós. Cabe a cada um decidir a sua aplicação, conforme resultado desejado. Mais produtivo do que negar o sofrimento ou transferi-lo, para outra pessoa ou entidade sobrenatural, é desenvolver a cultura e a prática de superação, utilizando a capacidade de ser um vencedor, em função das forças existentes no interior de cada pessoa, natural ou divina. Forças que não podem ser ignoradas ou sub estimadas. Não é saudável vivermos a cultura de “contra o natural e a natureza”. Voltar ao útero materno é voltar-se para os benefícios da natureza, do homem e seu universo. Viver bem, implica em viver uma vida afirmativa. Existe significativos e produtivos meios transformadores, considerando quem desejamos nos tornar e de que forma podemos existir. Mais importante do que valorizarmos, apenas, um corpo temporal, com declínio inevitável por mais que seja possível adiar, e uma vida marcada pela superficialidade, é beneficiar-se do natural contemplando a natureza, praticando ações construtivas, valorizando a vida, apreciando as diferentes expressões de arte e entendo o trabalho como missão ( independe da categoria), substituindo a ação da obrigatoriedade (eu tenho) pela espontaneidade do querer (eu quero). Se somos o Homo Sapiens, o homem que sabe, temos que saber. Saber é diferente de achar que sabe. O saber nos proporciona a sabedoria, o achar que sabe nos mantém na ignorância. Mas.....se és feliz na ignorância, para que tornar-te sábio? O saber gera conflitos. As pessoas mais felizes que encontrei na vida foram pessoas simples: -os sábios, que sabiam apenas o que lhes fazia bem e os aplicavam, normalmente eram pessoas com cultura do homem como “animal natural”; - as velhinha viúvas, com os filhos criados e independentes, e, livre do mala do seu marido (o homem casa para mudar de mãe), estas eram pessoas com a cultura do homem como “animal racional”. Não importa o tipo de animal que nos tornamos ou nos tornaremos, o que importa é sentir-se livre dos complexos e das sensações que nos incomodam, e, construirmos um mundo para experimentarmos mais frequentemente o estado de bem estar. Ideologias e convicções religiosas são apenas um meio e nunca um fim em si mesmos. É cada um, seu próprio início, meio e fim. Felizes são aqueles que conseguem compartilhar a vida com alegria.

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