quarta-feira, 14 de maio de 2014

"Estamos numa fase de transição. Como sempre" (Ennio Flaiano)

Não existe época que não tenha ocorrido transformações, mudam apenas em intensidade e velocidade. Com a tecnologia e globalização da sociedade, este processo é mais rápido e intenso nos dias de hoje. Ao simples olhar nos parece uma significativa mudança de época, com novos princípios e valores, caracterizando-se uma nova forma e conteúdo de civilização, possibilitando-nos acreditar que estamos diante de um novo ser humano, ficando difícil avalia-lo e compreende-lo de maneira simples, pois, nem ele mesmo se conhece, efetivamente. Não é apenas um fator da História que está mudando, como foi em outras épocas, mas, muda principalmente a BASE DE VIDA na qual as pessoas construíram e deveram de rever os seus paradigmas. Como citado anteriormente, quando mudam coincidentemente fatores importantes, referentes: à necessidade de novas fontes energéticas e, maiores cuidados com a natureza e a orientação para uma vida de valoração do natural; o surgimento de novas profissões e ocupações, com a necessidade de melhor organização do trabalho e gestão de pessoas em busca da produtividade (com boa qualidade e bom preço); as novas divisões de poder, num universo de riquezas esgotáveis e, a existência de emergentes problemas sociais, culturais e religiosos...é imperioso a construção de um novo modelo de vida - que contemple as necessidades das pessoas – com mudanças constantes de paradigmas, para ajustes, na formação de novas maneiras de nos relacionarmos com as pessoas e o mundo. Existem muitas fases de milênios em que aconteceram algumas coisas, mas, uma verdadeira mudança de civilização aconteceu poucas vezes, e agora é uma delas. Fase importante foi a que o “homem criou a si mesmo”: aprendeu a ficar em pé, depois a andar ereto, a se comunicar de maneira simples, a falar, a cuidar e educar a prole. Interessante que a necessidade de grandes mudanças nos é imposta por nossas imperfeições. O homem se constrói baseado nos seus defeitos e não nas suas virtudes. No livro “O elogio da imperfeição”, a autora Rita Levi Montalcini, explica muito bem que as nossas extraordinárias mudanças, são decorrentes da compensação dos nossos defeitos: tínhamos um olfato fraco, o que nos dificultava farejar a terra e perseguir a caça – como fazem os outros animais -, mas, tínhamos que avistá-la por questão de sobrevivência, e como a caça fugia no meio da vegetação, tivemos que ficar em pé para aumentar a possibilidade de visão e enxergar em várias direções. Os mais aptos da nossa espécie sobreviveram à seleção natural. Caminhar ereto implicava dispor dos dois membros superiores e, ao liberar os braços e as mãos, desenvolvemos outras habilidades para compensar outros pontos fracos, como por exemplo: a fraca mandíbula. Por não termos forças suficientes para triturar uma presa, desenvolvemos habilidades para construir utensílios e instrumentos para facilitar a nossa vida. Assim, em função da necessidade, que é a mãe de toda realização, temos nos construído, sucessiva e ininterruptamente. O homem descobriu a sua capacidade de fabricar objetos para sobreviver e, desenvolvemos o elemento mais importante e facilitador das conquistas: somos o único animal capaz de opor o grande dedo aos demais (há registro que chimpanzés da Tanzânia também conseguem e por isso conseguem fabricar instrumentos). O principal aprendizado desta época e que nos possibilita sempre lembrar - por ser uma novidade que atualizamos conforme as necessidades de mudanças - é a criatividade. O homem é capaz de fabricar os meios que necessita para se desenvolver e sobreviver, com qualidade. Graças a nossa posição ereta aguçamos os nossos órgãos dos sentidos (principalmente a visão), ao liberarmos as mãos desenvolvemos habilidades e, ao uso intensivo do nosso cérebro, o homem cresce e se aprimora, se educa e se transforma, aprende e cria, se organiza no trabalho e educa a família. Observamos que há muito tempo temos aumentado e potencializado o nosso cérebro, e, pode muito mais, mas, é preciso querer e procurar os meios adequados. A extinção de alguns animais deu-se por diferentes motivos, um deles é que a prole não era educada pelos genitores, tendo cada um que começar por conta própria, sem o cuidado materno e sem o “leite” cultural. Como saber a arte de habitar o mundo? Os primeiros animais a serem extintos foram aqueles que eram considerados prontos para vida, sendo autônomo para realizar as suas atividades, portanto, sendo dispensado o cuidado dos genitores. O ser humano, ao contrário e graças a imperfeição, nasce indefeso, necessitando de cuidados e proteção por um longo período, até sentir-se em condição de cortar o cordão-umbilical-afetivo-financeiro-emocional, por conveniência, prolongando o máximo possível. Uma reflexão apurada possibilita-nos concluir, até para constar no novo modelo de vida, que o que podemos considerar fraqueza no início da nossa existência, pode se transformar na nossa força motora. Força vital capaz de mobilizar a própria vida nas diferentes fases, pois, durante um tempo significativo para os cuidados biológicos, podemos ser aculturados pelos nossos familiares e pela sociedade. Essa relação pode nos proporcionar significativas e produtivas possibilidades de transformações, no decorrer da nossa existência, para superar as dificuldades naturais. O ser humano é o animal que necessita de cuidados o tempo todo, uns cuidando dos outros. Também somos os únicos animais que não recomeçamos sempre do início - mesmo não tendo instintos que foram substituídos por conhecimentos no processo de humanização -, pois, recebemos muito, das características hereditárias e do que aprendemos com o exemplo dos adultos, além do saber cultural. O homem necessita, urgentemente, criar um modelo para o novo mundo. Uma nova sociedade está sendo formada após o período industrial, com gente insatisfeita em guerras constantes, com falsas lideranças, onde a ética a ser praticada é a corrupção e, cada um, deseja apenas salvar a própria pele, inventando teorias e conspirações contra a própria sociedade. Já aprendemos a destruir civilizações, agora é preciso exercitar a construção de um novo modelo para uma nova civilização, com responsabilidade, contemplando as necessidades emergentes e definitivas. Cada um deve manifestar o seu poder criativo, a manifestação interior de Deus ou da própria natureza (conforme convicções e crenças pessoais), inventando uma nova maneira de pensar, agir e sentir a vida. Não é o trabalho, mas saber trabalhar e descansar, que é o segredo do êxito no trabalho e no lar. Saber trabalhar é não fazer um esforço inútil e nem ter uma atividade ou comportamento que prejudique a sociedade. Saber trabalhar e saber viver (não apenas o simples existir) é persistir na conquista do que promove o aperfeiçoamento e bem estar de todos e, saber reconstruir-se continuamente, sendo um o facilitador na vida do outro. O MOMENTO ATUAL EXIGE A CONSTRUÇÃO DE UM NOVO MODELO DE VIDA...à partir de si mesmo.

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