Como lidar com a finitude humana e a questão da salvação ?
Somos, fundamentalmente, movidos pelo desejo: - queremos ser compreendido, respeitado e valorizado, se possível amado. - não queremos nos sentir afastados dos outros, temos medo do abandono e solidão; temos medo da morte (devido mistérios e conseqüências) e ficamos tristes com a perda das pessoas que queremos bem (principalmente pela falta que nos fazem).
A realidade, um dia nos surpreende e frustra as nossas expectativas. A existência de um ser supremo e superior nos dá segurança e a religião nos conforta, prometendo o paraíso e vida após a vida, em melhores condições do que a atual. Esta é a importância em acreditar e ter fé.
Como o ser humano é inquieto e tem facilidade para assumir uma postura pessimista, fatalista, determinista, a idéia da vida temporal e finita o atormenta, necessitando recorrer à crença para manter a fé. O homem é o único ser vivo que tem consciência que a vida é curta e, tem que administrar o breve tempo. Não temos o luxo da eternidade, nesta forma ou dimensão. Mesmo que exista outras vidas, por elas não estarem interligadas (não trazemos nenhum aprendizado e temos que “pagar“ por coisas que nem lembramos), cada uma tem seu próprio tempo e a sua própria realização; é como viver várias vidas uma única vez.
O ideal de sabedoria nos informa que para vivermos bem e livremente para realizarmos as nossas escolhas, com alegria e participação, precisamos, antes de tudo, exorcizarmos os medos, e, acreditarmos nas nossas possibilidades. Na maioria das vezes as religiões funcionam como terapia de apoio, nos confortando em momentos específicos, sem jamais permitir que sejamos o principal protagonista da própria história. Religiões e doutrinas se fundamentam em promessas, nos fazem acreditar que sempre haverá uma força “super” humana e poderosa para nos acolher, para tanto devemos entregar as nossas necessidades nas mãos dos deuses, santos, pessoas desencarnadas que se transformaram ou foram eleitas como espírito de luz, amuletos, fogueira santa, água benta, pastores, missionários, cartomantes, pajés, rabinos, ayatollahs, monges, ministros de confissão religiosa, etc. A verdade é como cada um acredita, todos nós estamos certos das nossas convicções, que não necessitam ser sempre as mesma, variam conforme o entendimento e as circunstâncias. Nossa vida não é linear.
Alguns filósofos, por não conseguirem acreditar num deus salvador, procuraram entender o comportamento das pessoas nas suas relações com o mundo, com outras pessoas e consigo mesmo, até quanto a inteligência intelectual e emocional de cada um permite. Refletindo com as palavras atribuídas à João: conhecereis a verdade e ela vos libertará. Só a verdade liberta, a ignorância nos mantém reféns. A informação é mais importante do que a fé cega, do que a fé que não questiona, devido medo da resposta e ter que mudar as convicções, e, das punições (inclusive as auto punições).
Neste aspecto é preciso considerar que:1) os deuses não podem ser temidos (produtores de castigos); 2) a morte não pode ser motivo constante de pavor (o único mistério é deixar de viver); 3) construir coisas boas e beneficiar-se delas é possível para toda pessoa (é preciso querer, estabelecer estratégias significativas, se dedicar com afinco, não desistir); 4) as coisas ruins, os transtornos, as doenças, são possíveis de serem superadas (não são provenientes da “ira dos deuses“, são eventos decorrentes da própria vida e mais fácil de suportar do que imaginamos); 5) o milagre da vida é a vida (somos capazes de produzir os meios necessários para nos tornarmos vencedores).
Tenho observado que o medo... de viver, de crescer, de morrer, de enfrentar o desconhecido, da liberdade, de ser feliz...gera angústia e nos impede de vivermos melhor. Oscilamos entre a “nostalgia” e a “esperança“. Nostalgia: com recordações de um passado que pode ser considerado bom (porque já foi) ou, de arrependimento e culpa, por considerarmos inapropriado o que fizemos (esta sensação de remorso é difícil de ser administrada). Esperança: acreditando que existe um mundo melhor do que este de agora, fazendo projetos que quase nunca se concretizam, preferindo aguardar o melhor que virá, do que viver o momento. Momento é a única coisa real. Algumas pessoas renunciam ao prazer acreditando agradar o divino (referem que quem ri num dia, chora no dia seguinte).
O ideal de sabedoria nos convida acreditar que devemos buscar, incessantemente, a liberdade e o bem estar. Mas, as religiões sugerem o sacrifício, estimulam a fé e não o conhecimento à luz da verdade.
As religiões nos fornecem modelos prontos na prática da vida, ensaiam e nos apresentam tradições e heranças, desde a época medieval. Nos ensinam a viver segundo regras e interpretações sem a participação dos fiéis seguidores, reproduzindo apenas modelo para manutenção de um sistema. Conforme o local onde se congrega e orientação do preceptor ,é proibido novos desenhos de liberdade para outros conhecimentos e escolhas racionais.
Tão importante como aprender a viver é aprender a morrer.
O momento da sociedade é a desconstrução de mitos e mistérios. Construídos à séculos, à serviço de quem?
Satanás é um mito, entre tantos. A conquista do paraíso perdido, com a salvação, é um mistério, que me obriga a questionar: salvação do que? Fui condenado sem ser julgado? A morte é simbolizada, com motivos lógicos, com o sono, eterno, sem sonhos e pesadelos.
É tempo de uma nova era. O velho tem que saber...que o novo sempre vem.
Quero viver livre...das estórias herdadas...para construir a minha história. O milagre na vida? É a própria vida. Não estou a espera de outros milagres...a realidade tem mais fantasias do que os sonhos (Einstein).
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