quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Estudos esclarecedores e confiáveis...revelam que o mundo (universo) não é acabado...não tem forma definida; não é fechado....não há limites; não é hierarquizado....simplesmente acontece, e, muito menos ordenado...sem nenhuma lógica ideológica e religiosa. Ele é o caos: infinito e sem controle, desprovido de nenhum sentido, um campo de forças e objetos que se entrechocam sem qualquer harmonia. Diferente da vida...que nos oferece só para o ano que vem...365 dias para darmos uma forma, estabelecermos limites éticos, priorizarmos as necessidades, onde as consequências serão o resultado do universo interior que cada um construir para si mesmo.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Aprendendo com as Celebridades

Capítulo III Pensando o auto-erotismo Freud foi importante estudioso e escritor sobre a sexualidade humana, desde os seus estudos sobre a histeria. É famosa a sua obra os “Três Ensaios sobre a Sexualidade”, este assunto é muito interessante, envolve a necessidade do conhecimento e de desfazer curiosidades. Sempre estamos, pelo menos vagamente, a percorrer os diferentes vieses que nos sugere o tema. Para ele os pais podem ser considerados “perversos”, porque de uma forma geral pervertem os seus filhos seduzindo-os de alguma maneira, possibilitando que os filhos, em algum momento de suas vidas, sintam algum tipo de carinho especial pelas suas mães. Freud considera importante na vida das pessoas a sedução e sobre ela tem várias teorias, revelando que da sedução nenhum ser humano escapa, e nenhuma sedução é mais significativa do que os cuidados da mãe. O auto-erotismo foi considerado por Freud como sendo o “estrato sexual mais primitivo”, agindo por conta própria de qualquer fim psicossexual e que exige sensações locais de satisfação, encontradas no próprio corpo. É importante saber que auto-erotismo e masturbação não são sinônimos e nem constituem as diferentes faces da mesma moeda. O auto-erotismo pode ser definido como o fenômeno resultante de emoção espontânea, produzido na ausência direta ou indireta, de qualquer estímulo externo, em que a pessoa obtém a satisfação utilizando apenas o próprio corpo. A masturbação é apenas um exemplo que caracteriza este ato. No início do processo da vida extra uterina, as crianças necessitam se tocar para realizarem as descobertas anatômicas e obtém como conseqüência, significativos prazeres, caracterizando a pratica de auto-erotismo. A pulsão sexual nos adultos é mais complexa, depende da exploração do outro corpo, independente do sexo das pessoas envolvidas neste processo, com explicita sedução e forte apelo sensual. A fase auto-erótica se inicia com a amamentação. É importante no processo de erotização a troca de olhares entre mãe e filho e os afetos (físicos e emocionais) que são obtidas nesta relação, gerando prazeres estruturais na personalização desta criança. Esta sensação agradável e nostálgica a criança irá buscar, mesmo que solitaria e eventualmente, a oportunidade de promover em si mesma o prazer. O prazer é excelente companhia, além de permitir não nos sentirmos abandonados, descobrimos a capacidade de produzir no próprio corpo o contentamento em estar vivo e disponível para as relações, que caracterizam todo o processo de transformações na existência humana. Numa perspectiva psicanalítica, o auto-erotismo é a fase do amor próprio da sexualidade infantil; podendo ser considerado o estado de desenvolvimento emocional em que o prazer é adquirido somente através da experiência subjetiva. Contava-me um dia um professor de psicossomática clínica, que encontrou a sua sogra conversando com a sua filha, bebê ainda que estava no berço, passando a chupeta na vagina, corrigindo-a e impedindo que a criança desenvolve-se e praticasse uma necessidade, naturalmente evolutiva. Teve ele que explicar para a sogra que este é um procedimento natural e necessário, que não era feio e nem socialmente prejudicial. Ela praticava o auto-erotismo, pois neste procedimento, uma pulsão parcial encontra prazer num local, em uma zona erógena, sem existir uma unidade corporal. Para Freud, as zonas erógenas eram consideradas como certas regiões do corpo com pulsões parciais, que começam a funcionar num estado desorganizado, que caracteriza o auto-erotismo. A partir do conhecimento da pré-disponibilidade para o prazer existentes nas zonas erógenas (várias partes do corpo) quando estimuladas, que Freud desenvolve o conceito de libido e a sua organização. Descreve as três fases na organização da libido: oral, anal e fálica. Afirma que a libido é essencialmente de natureza sexual e, toda energia humana é libidinosa, como citado no capítulo anterior. Em sua teoria sobre a libido, muitas coisas não podem mais ser consideradas como verdadeiras, existindo outros e mais atualizados entendimentos sobre o comportamento humano, mais ajustados à realidade. Falta-me competência para estabelecer, justificar esses conceitos e discutí-los, por isso procuro apresentar o que entendo como suficiente para a compreensão do auto-erotismo. O auto-erotismo, que é obter o prazer como resultado ao estimular as zonas erógenas do próprio corpo, é diferente do narcisismo, onde a criança sente o seu corpo como objeto de amor. Através do tempo foi mudando o entendimento real sobre o auto-erotismo e o julgamento da masturbação. O livre conhecimento sobre o auto-erotismo permitiu à Freud realizar estudos sobre as psicoses. Quanto à masturbação, dizia ele que causava neurastenia. A pratica da masturbação foi considerada como um ato sexual anormal. Acreditava-se ou atribuía-se que as pessoas ao se masturbarem provocavam um sentimento de culpa, tornavam-se inseguras, comprometendo com isso a auto-estima e a espiritualidade. Ainda hoje, em algumas culturas, reprime-se fortemente a pratica de masturbação, costuma-se dizer que leva ao emagrecimento ou à loucura, provocando significativas transformações, até o surgimento de pelos nas mãos. Como todos os mitos, é conseqüência da falta de informação ou de mecanismos para manipular consciências, conforme usos e costumes nas pregações religiosas. Não pode existir culpa e nem pecado num processo natural de auto-erotismo, quando praticado convenientemente e em benefício de si mesmo. A masturbação é um ato sexual solitário, independente de sexo e idade, para ocasiões oportunas e necessárias, e deve ser praticado de forma sensual. Quando era jovem havia um jornalista e escritor interessante, chamado Sergio Porto (Stanislaw Ponte Preta) que referia sobre a vantagem da masturbação, justificando não ser necessário levar a parceira para casa. O pior do amor é tornar-se a vestir. Um livro muito interessante e que aprendi muito com a sua leitura e reflexão, foi escrito pelo Médico Psicanalista, Dr. Francisco Daudt da Veiga, chamado o Aprendiz do Desejo (Editora Cia. Das Letras). Neste livro há um capítulo sobre o auto-erotismo, que ele chama de o Laboratório do “ser eu mesmo”, justificando a importância do assunto e desta fase. Diz que: “O auto-erotismo é a primeira manifestação de independência da nossa vida: a capacidade de nos proporcionar prazer sem precisar de ninguém, que está contida no simples gesto de um bebê chupar o dedo”. Podemos concluir que: ter imaginação e capacidade de promover o próprio prazer é não responsabilizar alguém pelas próprias frustrações. Ninguém é obrigado a ser o promotor contínuo de nossas satisfações. Na relação entre pessoas, a outra não pode ser o remédio para os nossos transtornos. Não é prudente dependermos sempre da atenção de alguém; ter companhia é excelente e devemos estimular esta possibilidade, mas temos que aprender a nos proporcionar bons momentos a sós, com uma leitura, ouvindo música, ocupado com um lazer de gosto pessoal, assistindo um filme, fazendo um passeio por mais simples que seja, se beneficiar da internet como importante ferramenta ... O auto-erotismo é a busca pelo prazer, sem cobranças e auto-suficientes, para experimentar a satisfação no encontro conosco mesmo, favorecendo a qualidade da relação com as outras pessoas. O auto-erotismo nos possibilita sermos melhores, pois é a principal comunicação com o nosso eu interior, no processo de liberdade para sermos nós mesmos.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Capítulo IV Pensando o prazer “Não importa o que digam os relógios ou as atitudes e labores dos homens. De manhã é quando estou desperto e há uma alvorada em mim. A reforma moral é o esforço de se desvencilhar do sono. Por que razão dão aos homens um balanço tão pobre do seu dia, senão pelo fato de que estiveram atordoados pelo sono? Eles não são tão mal calculadores assim. Se não estivessem tomados pela sonolência, eles teriam realizado algo. Os milhões estão suficientemente despertos para o trabalho físico; mas somente um em um milhão está desperto o suficiente para um trabalho intelectual efetivo, e só um em cem milhões para a vida poética e divina. Estar desperto é estar vivo. Nunca até hoje encontrei um homem desperto o suficiente. Como eu poderia olhá-lo de frente? [...] Afetar a qualidade do dia, eis a mais elevada das artes. Todo homem recebe a tarefa de tornar a sua vida, até mesmo nos seus detalhes, digna da contemplação de sua hora mais crítica e elevada” - Henry Thoreau (1854). Manter uma rotina diária de atividades parece ser menos cansativo, até mais produtivo, mas, ao longo da vida ela é a principal causa de perda da energia vital, tornando-nos preguiçosos e tristes. A vida obriga-nos estabelecer e rever as prioridades, conforme as circunstâncias, pois elas são determinantes na administração das nossas atitudes. Podemos fazer as circunstâncias e suas consequências, como apenas sobreviver àquelas que surgem ou disponibilizam para nós. A força motora na existência humana é a busca constante do prazer. Uma mente sadia não se contenta com o sofrimento e nem com o prazer eventual. O prazer é um estado agradável, é uma sensação cuja obtenção depende do resultado de ações provocadas conscientemente, raras vezes são ocasionais. Baudelaire (1869), faz referência que é importante a vontade desafiadora de todos os dias em nos tornarmos uma pessoa melhor. Diz ainda: “Sonhos! sempre sonhos! E quanto mais ambiciosa e fina é a alma, tanto mais os sonhos a afastam do possível. Cada homem traz em si sua dose de ópio natural, constantemente sagrada e renovada. E, do nascimento à morte, quantas horas poderemos contar preenchidas pelo verdadeiro prazer, pela ação feliz e resoluta?”. Significa que a conquista do prazer não é fácil e nem duradoura, mas sempre compensadora. Mozart (1777) disse que a felicidade existe apenas na imaginação. Se considerarmos a felicidade como um “produto acabado” creio que sim. Lembro de uma condição interessante, que se assemelha e se aplica ao fato: uma tarde estava na casa da namorada, quando começamos a nos abraçar, trocar afetos, nos acariciar com beijos, quando disse que o que mais queria naquele momento era fazer amor com ela, e ela simplesmente disse o óbvio, mas, nós já estamos fazendo amor, este não depende apenas da penetração. O prazer não pode estar atribuído somente ao orgasmo, mesmo porque seria por muito pouco tempo, ele é fugaz. Temos que reconhecer a importância de cada fase do processo e nos beneficiarmos dele, valorizando-o como o meio de conquista do prazer. “Não são as coisas em si mesmas que perturbam (ou dão prazer) aos homens, mas os juízos que eles fazem sobre as coisas” – Epiteo (Século I A.C.). Nem sempre as circunstâncias são favoráveis para a obtenção do prazer e, para a efetivação da alegria não podemos desistir diante das primeiras dificuldades (que parecem ser maiores do que reais); necessitamos nos superar, ir além dos próprios e imaginários limites, sem abandonar o projeto de conquista, para desfrutarmos das consequências da liberdade e do bem-estar, elementos essenciais do prazer. “Quem quer que faça o melhor que as suas circunstâncias permitem age bem, age com nobreza: os anjos não fariam melhor” – Edward Young (1745). A lembrança histórica sobre os desejos humanos, tem sido traduzido com a uma palavra simples “felicidade”, mas de complexo entendimento e difícil obtenção. Felicidade, o prazer sem conflitos, é como educação, não se estuda, se discute, se reflete, se aplica conforme as circunstâncias. Como educação, a felicidade é a busca constante pela transformação da realidade. O desejo de todo ser vivo é o sentir-se livre. Esta é a principal ação transformadora da educação, possibilitar que as pessoas se libertem...DE alguma coisa...PARA alguma coisa. O destino do “homem que sabe”, é viver num processo de constantes transformações, algumas deliberadamente escolhidas, como no auto-erotismo, e outras oferecidas pelo próprio processo da vida como produto das relações e, interpretá-las conforme as suas sensações. “O bem e o mal, tanto o natural como o moral, são inteiramente relativos ao sentimento e afeição dos humanos. Nenhum homem jamais seria infeliz se pudesse alterar os seus sentimentos”– David Hume (1742). Discutir o prazer é antes de tudo, refletir sobre o que, efetivamente, é importante na vida de cada um, sendo portanto uma condição singular. Se o destino na vida é o caminho, torna-se necessário ponderarmos os méritos relativos e as conseqüências dos diferentes caminhos, como também as condições orgânicas, materiais e emocionais do caminhante. Somos livres para realizarmos escolhas e reféns de suas consequências. Com as palavras de Paulo em 1 Coríntios, 6:12 “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm [...]”, é possível afirmar que diante de um universo de possibilidades, temos enorme dificuldades em saber, à luz da razão e da realidade, quais as escolhas que poderão representar as melhores possibilidades na obtenção do prazer sem dolo. A liberdade nos possibilita realizar o que desejamos, mas, o bom senso determina as consequências para realizarmos a melhor escolha. Liberdade e Responsabilidade tornam-se as duas faces da mesma moeda. Ser ou não ser, fazer ou não fazer, ir ou não ir, dizer ou ficar calado... eis uma eterna questão de inquietações. Nietzsche (1881) disse: “Foram as coisas reais ou imaginadas que mais contribuíram para a felicidade humana? É certo que a amplidão do espaço entre a suprema felicidade e a mais profunda infelicidade foi criada apenas com o auxílio das coisas imaginadas. Esse tipo de sentimento do espaço, então, é reduzido cada vez mais pela ação da ciência: de modo que dela prendemos a perecer a Terra como pequena, e o próprio sistema solar como simples ponto”. Como a vida nos obriga realizar escolhas, para não ficarmos à margem no caminho temos que responder à algumas perguntas. As nossas escolhas têm conseguido traduzir em prazer as nossas realizações? Temos realizados as melhores escolhas conforme as circunstâncias? Até que ponto, as nossas escolhas favorecem a possibilidade de ocorrer eventos que possibilitam nos mantermos livres e, promovermos o bem-estar? Temos nos beneficiado dos acertos e erros, como lição para realizarmos ajustes e correções? A civilização entristece o animal humano, preferindo o convívio com outros animais? Prazer, bem estar, liberdade consciente para inventar um estilo de vida, qualidade de vida pessoal e profissional são possíveis? O novo conhecer pode modificar o entendimento do conhecido, como a nova forma de viver compreender o que foi vivido? Não podemos mudar os “fatos“, podemos mudar as “sensações” que os fatos produzem, tornando-as mais leves. A vida é um processo constante de novos nascimentos, como disse Erich Fromm (psicanalista, filósofo e sociólogo, que viveu entre 1900 e 1980). Começar de novo ou recomeçar, não é voltar para trás para refazer, começando tudo de novo (isto é impossível). É fazer melhor daqui para frente, fazendo escolhas mais eficientes e realizando os procedimentos com mais eficácia. Há tempos e situações em que é preciso corrigir a rota, nos aparelharmos estrategicamente, iluminarmos o caminho para não perdermos a direção e, conquistarmos os objetivos. Este é o feedback para elaborarmos novas metas: planejamento, organização, coordenação, direção e avaliação dos resultados. É preciso seguir em frente, minimizando e até eliminando algumas possibilidades de praticas equivocadas. Voltar atrás é experimentar uma liberdade consciente e madura, significa não ter nenhum compromisso com o erro. É possibilitar, ideologicamente, voltarmos ao ponto de partida, onde tínhamos apenas a necessidade estética em saber e agora descobrindo o prazer oculto no “sabor em saber”. Considerando que é mais presente no ser humano o que nos falta e não o que temos e podemos, as palavras de Sócrates ao dizer que o homem é um ser eternamente insatisfeito, nos convida permanecer atentos para valorizarmos o que temos e somos, sem lamentações desnecessárias. Kant (1789) disse: “Dê tudo que um homem deseja, e ele, apesar disso, naquele mesmo momento, sentirá que este tudo não é tudo”. “[...] Todas as coisas que são, são com mais ímpeto perseguidas do que desfrutadas” – Shakespeare (1600). Pensar o prazer é complexo, necessitando constantes reflexões, em busca de informações e melhor esclarecimento, para experimentarmos diferentes e agradáveis sensações. Um provérbio árabe diz: “nós rezamos pela subida do Nilo. O Nilo subiu, e fomos devastados pela inundação”. Oscar Wilde (1895) disse: “Quando os deuses querem nos punir, eles atendem às nossas preces”. Condição semelhante diz mais tarde Bernard Shaw (1903): “Existem duas tragédias na vida. Uma é não conquistar o que o seu coração deseja.A outra é conquistar”. Assim tem sido uma constante na vida dos desatentos: o comportamento humano nos dias atuais revelam que o progresso técnico e o aumento dos níveis da produtividade, renda e consumo, são insuficientes para o aprimoramento ético e político das pessoas, mas, o desejo pela obtenção do prazer imediato aumenta de maneira rápida e significativa, gerando mais ansiedade. O fato é que temos nos preocupado com o aspecto de modernidade das fachadas dos templos, físicos e humanos, e não com os seus alicerces. Neste aspecto, um significativo exemplo nos é proporcionado por Sidarta, que renuncia à uma vida de prazeres afeiçoados apenas ao material, para descobrir uma outra vida, mais rica, como Buda, no despertar interior. O prazer representa uma necessidade que deve ser conquistada, e neste desafio natural temos que nos aplicar: com sabedoria (para sabermos “o que” devemos fazer), com habilidade (é o “como” fazer para fazermos bem feito) e com virtude (o “fazer” com vontade). Ao concluir, uma excelente reflexão nos possibilita Jhon Stuart Mill (1863): “Uma condição de exaltado prazer somente se mantém por momentos ou, em alguns casos, e com algumas interrupções, por horas ou dias. Ela é o brilhante clarão ocasional da alegria, e não a sua chama firme e constante. Disto sempre estiveram tão cientes os filósofos que ensinaram ser a felicidade a finalidade da vida como aqueles que a eles se opuseram. A felicidade que concebiam não era a do arrebatamento, mas de momentos assim em meio a uma existência constituída de poucas e transitórias dores, muitos e variados prazeres, com um predomínio decidido do componente ativo sobre o passivo, e tendo como fundamento do todo não esperar da vida mais do que ela é capaz de oferecer. Uma vida assim constituída, para aqueles a boa fortuna em obtê-la, sempre pareceu merecedora da designação de feliz. E uma existência assim, é mesmo hoje em dia, o destino de muitos durante uma parte considerável de suas vidas. A educação falida e os arranjos sociais falidos são os únicos obstáculos reais que impedem que isso esteja ao alcance quase de todos”.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Aprendendo Com as Celebridades

Capítulo II Pensando a Sexualidade Georges Bastaille foi um escritor francês que viveu entre 1897 e 1962. Sua obra literária é significativa no campo da Antropologia e Sociologia, na Filosofia e História da Arte. O tema principal dos seus escritos é sobre o erotismo, envolvem também a transgressão e o sagrado. No erotismo encontrou ele a chave que desvenda os aspectos fundamentais da natureza humana, o ponto limite entre o natural e o social, o limite entre o humano e o inumano. Considerava que entre todos os problemas humanos, o erotismo é o mais misterioso, o mais atuante e o mais distante. O comportamento humano está exposto e influenciado às mais surpreendentes pressões pelas circunstâncias, existe uma imposição orgânica e emocional que nem sempre conhecemos e temos o devido controle, o que possibilita as vezes não nos conhecermos o suficiente, podendo termos medo das nossas próprias reações. Nossos movimentos eróticos e as nossas reações, nos inquietam. Na constante dualidade que caracteriza o pensamento humano, o que existe de “santo” na nossa vida, se afasta com a presença do “sensual” que nos aterroriza. Isto é, o que existe de santo em cada pessoa, necessita ignorar a unidade das paixões inconfessáveis que existe no sensual. Diante deste complexo jogo de pensamentos, que sugere ações para sentir significativos prazeres, diz ele que o homem não tem possibilidade de esclarecer e esclarecer-se melhor se não dominar o que o aterroriza. Revela ainda que com isso ele não quer dizer que o homem deva esperar um mundo em que não haja motivos para sentir-se desconfortável e sem medos - fazendo referências ao erotismo e a morte que se encadeiam como peças de um mesmo instrumento - mas sim que o homem pode ultrapassar aquilo que lhe causa terror e, assim, poder olhar de frente o que lhe aterroriza. É impossível um único entendimento sobre o significado das palavras e sua representação na vida do ser humano, principalmente quando falamos em sexualidade, erotismo, Eros, libido, considerando que diferentes autores e literaturas escrevem diferentes definições, conceitos e explicações. Costumo dizer que o homem tem uma dupla existência: - uma dimensão física, orgânica, visível e mensurável, determinada pela herança genética, que é o sexo e definido pela genitália. Portanto existem apenas dois sexos entre os humanos, o masculino e o feminino. Para mudar de sexo é preciso mudar de genitália. - uma dimensão psíquica, não visível e subjetiva, influenciada e construída pela família, pela cultura, a religião, as diferentes terapias, a sociedade...e, esta dimensão psíquica se transforma conforme as experiências, interferindo sempre na forma e conteúdo do comportamento humano, formando o gênero humano. A esta dimensão alguns autores se referem como a sexualidade humana, o ser e manifestar-se pessoa. Portanto, o que caracteriza o sexo é a genitália e o que irá caracterizar o gênero humano é a sexualidade, o comportamento nas relações: consigo mesmo, com os outros e com o mundo. A sexualidade é a forma de pensar e agir para sentir o mundo, o que sempre será um aprendizado, necessitando de modelos para atender as perguntas básicas da existência humana: quem eu quero ser? Como quero me revelar nas relações? Como posso e quero existir? Conforme diferentes estudos literários, parece não existir mais dúvidas que o ser humano vive numa dinâmica psicossomática, onde uma dimensão influencia a outra. De um lado nós temos um organismo e suas ações naturais, um processo de oxidação e combustão influenciado pelos hormônios e, identificado pelo sexo, de outro lado temos uma dimensão caracterizada pelo aprendizado (na formação do gênero humano, os homens e as mulheres aprendem com as mulheres - a mãe, a avó, a tia, a babá, as professoras - o universo tem alma feminina) que é o ser pessoa, a sexualidade. Estas duas dimensões necessitam ser fundidas, transformando-se numa unidade, para que a pessoa possa se manifestar como um ser bio-psico-sócio-espiritual, a este processo podemos chamar de erotização, considerando que a palavra Eros significa, por excelência, vida. A responsável por este processo é a mãe ao estabelecer uma relação afetiva com o filho; fato facilmente observado na naturaza entre os diferentes seres vivos. Sigmund Freud usava a palavra Eros para definir libido ou impulso vital, o principal elemento na determinação do comportamento humano, ao lado da morte. Portanto a energia psíquica de Eros é referida como libido, por isso disse ele que a energia humana é essencialmente libidinosa, que o homem vai transformando-a em outras formas de energia, conforme a necessidade do momento e as circunstâncias. A palavra Eros inclui tudo que significa prazer, como contato físico, alimentação, alegria, movimento... Portanto, a grande motivação humana é a busca do prazer, originado pelo desejo, de quem somos eternos aprendizes. Não fosse outras ocupações, buscaríamos a realização no sexo o tempo todo, por isso que o Homo sapiens não é monogâmico, desde a sua origem, o Homo neanderthalensis. Para Bataille a humanidade nasceu da lei: “erotismo e transgressão”. E, de sua consciência, o homem se percebe como parte deste imenso universo de possibilidades e sentimentos que é a vida. Faz referência que o erotismo, por ser uma experimentação da ausência de limites, é semelhante a uma morte vislumbrada, como magnitude e não como fato. Para ele sexualidade e morte são apenas os momentos culminantes da festa que a natureza celebra com a inesgotável multidão dos seres. Uma e outra têm o sentido do desperdício ilimitado a que a natureza procede contra o desejo de durar que é propício de cada ser. O que justifica os franceses chamarem o orgasmo de petit mort. Viviane Mosé diz que “o erotismo pode ser pensado como o espaço entre o biológico e o cultural, um espaço de inter-relação e não de oposição, que é capaz de contemplar a grande contradição que marca os homens em seu processo de humanização: eles precisam de limites para se organizar, precisam da cultura, mas, ao mesmo tempo, precisam suspender provisoriamente esses limites, precisam exercer o excesso da vida que habita seus corpos, precisam da natureza e de seus excessos, para se potencializarem. É o que acontece na dança, nas festas, no sexo”. É intensa e transformadora a força da “energia da vida”, representando todo esplendor da natureza. Os animais, particularmente o ser humano, tem o poder de imaginar e criar (criação é a ponte que comunica o interior de cada pessoa com a universalidade da vida), para a conquista do prazer. Mas, necessita conter esta vontade, e, para viver em grupos sociais estabelecem-se regras de condutas para serem observadas, conforme a cultura e crenças religiosas, para determinar os limites e terem uma pratica aceitável de convivência. Está estabelecido um conflito, existe o limite imposto pela lei e garantir a ordem, em oposição à vontade de transbordar de prazer, entretanto, para celebrar a existência da vida é preciso transgredir este impedimento, mesmo que temporariamente. Como administrar a força da natureza (erotismo) e o impedimento da lei (ordem) sem transgredir? A energia vital nos impulsiona para a vida em abundância, nos obrigando a participar ativamente na busca do prazer proporcionado pelos afetos, encontros e relações, paixões, entretenimento, degustação, amor e sexo, para sermos os protagonistas da própria história, nos obrigando realizar escolhas, mesmo que por vezes tenhamos que transgredir a ordem, para prevalecer a força natural da vida. Este é um jogo de paradoxos, temos a vontade pela realização do desejo e criamos as leis para limitar as suas conquistas, nos obrigando a transgredir sem termos sempre o controle de todos aspectos envolvidos na sensação e no fato. Como nos relacionarmos com o erotismo, com a transgressão e o sagrado, se nem monogâmicos somos? Já que a vida é uma invenção, como disse Ferreira Goullar, inventamos situações que com o tempo nos acostumamos e podemos aceitar como normal. Os jovens criaram o estado de relação entre duas pessoas sem compromisso e chamam de “ficar”; assim numa mesma noite pode-se ficar com uma ou várias pessoas e isso se repete em outras oportunidades, atendendo o apelo sensual sem comprometer o modelo do sagrado (o anti modelo das mulheres é a prostituta e não a homossexual, diferente dos homens, que o anti modelo não é o galinha e sim o homossexual). Os adultos tem seus casos: com garota de programa, colega de trabalho, conhecidos, amantes ocasionais ou de relação mais constante, como também a possibilidade de vários casamentos ou relações estáveis. Quando os primeiros estágios da evolução da espécie humana vivia na natureza e às expensas dela, a realização do sexo era um procedimento natural. Agora afastado da sua animalidade, o “homem que sabe” tem que se ajustar, com renúncias e racionalizações, com transgressões sem grandes complexidades, ou simplesmente perder o “juízo” e a vergonha. Astor Piazzolla em uma de suas composições diz que foram os loucos que inventaram o amor. Leo Buscaglia, o professor do amor, diz que o amor pode ser um aprendizado. Em seu livro “A cientificarão do amor” Michel Odent, revela a importância das relações afetivas, principalmente nos primeiros anos de vida, para desenvolvimento da oxitocina, o hormônio do amor. O amor tem que ser desenvolvido e aprimorado nas relações, à partir da relação mãe filho, formando uma unidade mãefilho. O amor é um importante sentimento que faz parte do universo e pratica do erotismo, cuja palavra é utilizada também para a realização do ato sexual, quando dito fazer amor, no encontro e relação entre dois corpos (ou mais no sexo grupal). A pratica do sexo, além do prazer pela utilização da energia libidinosa e do orgasmo, é uma excelente oportunidade para não nos sentirmos sós. A solidão é um dos maiores “sofrimentos e geradores de transtornos” na vida humana. Somos seres gregários, mesmo tendo dificuldades para vivermos em “matilha”. Mesmo não acontecendo a fusão de corpos, o amor sempre terá uma representação erótica, com conseqüências importantes, que sempre deverão ser valorizadas. O amor é realizador, mesmo na distância entre dus pessoas existe uma presença transformadora, permitindo-nos afirmar que quem ama, por diferentes formas e motivos, tem vida interior e quem as tem não padece de solidão (assim é com as diferentes manifestações da arte, como referia-se Artur da Távola com a música). Entendo que o sexo é estável, fixo, determinado pela genitália, caracterizado pelo desenho e composição dos gametas herdados pelo patrimônio genético dos pais. E, a sexualidade não é estável, varia conforme as circunstâncias, determinada pelo complexo resultado de varias relações, envolvendo agentes variáveis como: o império dos hormônios (é significativo o seu mandato, nem sempre permitindo-nos realizar escolhas), o processo de erotização, a capacidade de amar, a educação, a cultura e a religião. Obs.: não se escolhe o comportamento sexual, apenas respeita-se a influência dos hormônios para a obtenção do prazer, e, administra-se o conflito que envolve o desejo e os costumes: o erotismo, a transgressão, o sagrado e o sensual. O homem é um animal, que existe como humano quando está em relação. A sexualidade determina o nosso comportamento nas relações, influenciada pelo erotismo. Considero as diferentes manifestações de afeto, como produto do amor, a principal forma de erotização. Assim disseram algumas celebridades: Platão (Século IV A.C.) – “Aquele que ama é um ser mais divino do que o amado, pois está possuido por um deus. [...] Concluo, portanto, que Eros é o mais antigo, o mais honorável e o mais capaz entre os deuses de proporcionar a virtude e a felicidade dos homens, seja durante a vida, seja após a morte”. Erasmo de Rotterdam (1511) – “Considere que Platão teve um sonho semelhante quando escreveu que o furor dos amantes é de todos o mais feliz. De fato, o amante apaixonado já não vive mais em si, mas inteirinho no objeto amado; quanto mais sai de si mesmo para se fundir no objeto, mais se sente feliz. Assim, quando a alma pensa em escapar do corpo e renuncia servir-se normalmente de seus órgãos, julga-se com razão que ela tresvaria. As expressões correntes não querem dizer outra coisa: ele está fora de si, volte para si, ele caiu em si. E quanto mais perfeito é o amor, mais forte o tresvario...e mais feliz”. Através dos tempos, o amor tem sido considerado como uma força essencial e transformadora, é energia para a vida. “No amor basta uma noite para fazer de um homem um deus” – Propércio (Século I A.C.). “No amor tenho sempre a impressão de que uma felicidade ilimitada, além dos meus mais desvairados sonhos, está logo alí dobrabdo a esquina, aguardando apenas uma palavra ou sorriso. [...] A beleza não é senão a promessa de felicidade” - Stendhal (1830). O amor como forma de erotismo exige a transgressão, para plena realização do prazer. “Quando não se ousa amar sem reservas é que o amor já está muito doente” – Goethe (1830). “Nem a um deus é facultado amar e manter-se sábio” – Publius Syrus (Século I A.C.). Em busca do prazer, somos obrigados a sacrificar o sagrado, mesmo que temporáriamente. Temos que ultrapassar os limites impostos pela cultura para experimentarmos a vida em plenitude; para atender o apelo do sensual, preterimos o sagrado. “Desejar violentamente uma coisa é tornar-se cego para o demais” – Demócrito (Século V A.C.). Vida e morte; erotismo e transgressão; sagrado e profano; bem e o mal; amor e desamor; valoração e indiferença; cara e coroa....são faces diferentes da mesma moeda. Disse Kant (1782): “O amor, enquanto afeição humana, é o amor que deseja o bem, possui uma disposição amigável, promove a felicidade dos demais e se alegra com ela. Mas é patente que aqueles que possuem uma inclinação meramente sexual não amam a pessoa por nenhum dos motivos ligados à verdadeira afeição e não se preocupam com a sua felicidade, mas podem até mesmo levá-la à maior infelicidade simplesmente visando satisfazer sua própria inclinação e apetite. O amor sexual faz da pessoa amada um objeto do apetite; tão logo foi possuída e o apetite saciado, ela é descartada tal como um limão sugado”. Schopenhauer (1844) – “ A ação de servir à espécie por meio da fertilização e fecundação é sucedida, no caso de cada animal individual, pela momentânea exaustão e debilidade de todos os seus poderes, e no caso da maioria dos insetos até mesmo pela morte antecipada; por esta razão, afirma Celsus: A ejaculação do esperma é a dispersão da alma. No caso do homem, a extinção do poder de procriar revela que o indivíduo se aproxima da morte; em qualquer idade, o uso excessivo desse poder encurta a vida, ao passo que a moderação promove todos os poderes, especialmente a força muscular. Por essa razão, a abstenção e a moderação faziam parte do treinamento dos atletas gregos. A mesma moderação estende a vida do inseto até a primavera seguinte. Tudo isso sugere que, no fundo, a vida do indivíduo é apenas algo tomado de empréstimo da vida da espécie, e que toda força vital é, por assim dizer, força da espécie contida por meio de um represamento”. Diferente dos outros seres vivos que se acasalam apenas para a procriação, os humanos por também sentirem significativo prazer com a realização do sexo, estão mais disponíveis para a pratica sexual. É preciso lembrarmos que a sua energia de vida é libidinosa, necessitando de outras atividades, como a organização do trabalho, para a transformação e utilização desta forma de energia. Enquanto animal integrado na natureza havia outro entendimento e aceitação natural para a atividade sexual e, agora, ao afastar-se da natureza e perder a sua condição de animalidade, o ser humano está submetido às regras e costumes. “ A experiência mostra que os homens rústicos, de espírito mais grosseiro, dão parceiros sexuais mais vigorosos e desejáveis; deitar-se com um carroceiro é com frequencia mais gratificante que deitar-se com um gentil-homem. Como poderíamos explicar tal coisa, exceto pela suposição de que as emoções no interior da alma do gentil-homem minam e esgotam a força do seu corpo, assim como exaurem e deformam o seu espírito?” – Montaign (1592). Freu (1930) disse: “ A vida sexual do homem civilizado encontra-se, não obstante, severamente prejudicada e dá a impressão, por vezes, de estar em processo de involução quanto a função, tal como parece acontecer com os nossos dentes e cabelos. É provalvemente justificado supor que sua importância como fonte de sentimentos e felicidade e, portanto, na realização de nosso objetivo de vida tenha diminuido sensivelmente. Às vezes somos levados a pensar que não é somente a pressão da civilização, mas algo ligado à natureza da própria função que nos nega plena satisfação e nos incita a buscar outros caminhos. Isto pode estar errado; é difícil decidir”. O “homem dos instintos” já não existe mais, ficou na natureza; com o tempo e seguidas transformações tornou-se o “homem que sabe”, que necessita aprender tudo para viver em sociedade. Justifica a pergunta de Ma Mettrie (1747) “ O que é ganho do lado da inteligência é perdido do lado do instinto. Qual deles é maior, o ganho ou a perda ?”.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Aprendendo com as Celebridades

Capítulo I Pensando a Crise “Nunca se deve deixar prosseguir uma crise para escapar de uma guerra, mesmo porque dela não se foje, mas apenas se adia para desvantagem própria” Maquiavel in O Príncipe Em meados da década de 80, com aproximadamente 42 anos, eu freqüentava uma Igreja Evangélica Tradicional, de denominação Batista, quando o pastor me procurou solicitando para realizar uma palestra sobre a Crise da Meia Idade, dirigida para as pessoas que congregavam na nossa igreja e convidados. Presenteou-me com um livro chamado “O Cristão na meia Idade”, para leitura e reflexão. Observei que este significativo período era marcado por diversas crises, que acometiam homens e mulheres de forma diferente. Preparei-me convenientemente e durante anos fui convidado a apresentar esta palestra em diferentes locais, para diferentes pessoas. Ao iniciar a palestra, eu projetava o significado da palavra “crise”, como um dístico que representa “perigo” e ao mesmo tempo “oportunidade”. A palavra crise significa “julgamento”, “decisão”, “falta de alguma coisa em vasta escala”, “período difícil na vida de uma pessoa ou de uma sociedade de cuja solução depende a volta a um estado normal”. É considerado um momento importante, que deve ser conhecido e valorizado, fundamentado na necessidade de buscar- se uma solução, pois, exige uma resolução eficiente e rápida. Toda crise exige um conjunto de ações. Pois como disse Dante Aligueri na Divina Comédia “No inferno os lugares mais quente são reservados àqueles que escolheram a neutralidade em tempo de crise”. É um período difícil, com inquietações, com desconfortos orgânicos e emocionais, que exige realizarmos as melhores escolhas, sem as quais nada irá melhorar, podendo inclusive agravar a crise e tornar muito mais difícil as mudanças desejáveis, aquelas que esperamos ser eficazes em função do momento e suas circunstâncias. As decisões sempre serão políticas, considerando que o homem é um ser essencialmente político. É fundamental buscarmos a estabilização de todo sistema, principalmente o financeiro e o ecológico. A situação atual no mundo nos possibilita materializar a reflexão, percebendo as dramáticas conseqüências sociais. É preciso interferir para mudarmos adequadamente as regras do jogo financeiro e os hábitos de consumo. Precisamos ter o conhecimento da realidade e a vontade de realizar as mudanças e, esta disponibilidade deve ser voluntária e consciente. Nos dias de hoje e cada vez mais, o estilo de vida das pessoas está baseado no crescimento constante do consumo, estamos preocupados em revelarmos um mundo de realizações e satisfações muito além do que podemos, onde o “aparentar ser” é mais importante do que “ser efetivamente”. O que nos impulsiona para a vida e desenvolve o progresso é a necessidade e concretização do consumo, parecendo mais estar vivo quem mais consome. Observamos com um olhar histórico, que este paradigma tem-se mantido através dos tempos e sociedades, o que permitiu a Sólon, no Século VI A.C. dizer um sentimento atual: “Quanto à riqueza, não há limite claramente definido. Pois aqueles que hoje dispõem das maiores fortunas entre nós possuem também o dobro da voracidade dos demais, e quem poderá satisfazer a todos?” Um Século depois Sófocles disse: “Nada suscitou nos homens tantas ignomínias como o dinheiro. É capaz de arruinar cidades, de expulsar os homens de seus lares; seduz e deturpa o espírito nobre dos justos, levando-os a ações abomináveis. Ensina ao mortal os caminhos da astúcia e da perfídia, e o induz a realizar obras amaldiçoadas por deuses.” No Século II A.C. Cícero afirmou: “Estar satisfeito com a nossa própria riqueza é a maior e mais segura riqueza....”. Isto nos parece irreal. Somos influenciados por diferentes agentes publicitários, econômicos e ideológicos, afirmando eles que o progresso está no possuir mais, assim como o sucesso e a felicidade também, nos influenciando concluir que está mais realizado quem mais possui. Como se a “liberdade” e o “bem estar”, elementos estruturais na construção de um estilo de vida com mais prazer e menos conflitos, dependesse exclusivamente da condição da posse de bens, duráveis ou não. Não podemos nos colocar contra os prazeres materiais, eles são reais e também positivos, mas temos que estabelecer limites para o consumo, considerando sempre o necessário e o possível. É sábio elegermos um modelo ideal de vida, de forma prudente, entendendo que o modelo que faz da posse (desnecessária), da acumulação (sem limites racionais) e da troca constante (por ostentação), não pode ser o melhor para as pessoas e não garantem uma vida de realizações, pois estes não se harmonizam com o sentido maior da existência humana; são apenas prazeres ocasionais. Temos que facilitar a nossa adptação diante da realidade, conforme as diferentes situações possíveis; é impossível termos uma vida linear, só de prazeres, sem nenhuma dificuldade e transtornos... quem brinca só de rainha pode se acostumar com a fantasia. É bom lembrar que os recursos naturais e os monetários não são garantias eternas, podendo faltar um dia e precisamos nos adaptar, com o mínimo de sofrimento, para viver sem eles ou com poucos recursos. Nem todas as crises são reversíveis e sempre promovem efeitos negativos, independente do prazo de duração. Portanto, é bom refletir nas relações que envolvem a economia e a educação financeira, a sociedade ou grupo social, o real significado do dinheiro e sua utilização, o equilíbrio pessoal e familiar, e o estado de felicidade individual e a realização do coletivo. Crise é isso, é perigo e oportunidades, é um importante aviso para promovermos mudanças. O homem é um ser em constante transformação. Crise não é só ruim, é um sinal para ser notado e valorizado, exige a participação de cada pessoa envolvida no processo, onde todos são responsáveis e cada um tem de contribuir de acordo com as necessidades do momento e suas possibilidades, para assim quando a situação melhorar todos possam se beneficiar das conquistas. Todos sabemos que a vida não pode ser considerada apenas como “fazer dinheiro” e que o único prazer seja o “consumo”. Mas tem sido assim através dos tempos, como revelam as palavras de Weber em 1920 “O impulso para a aquisição, a busca do ganho, do dinheiro, da maior quantidade possível de dinheiro, não tem nada haver com o capitalismo. Tal impulso existe e tem existido entre garçons, médicos, artistas, cocheiros, prostitutas, funcionários desonestos, soldados, nobres, cruzados, apostadores e mendigos. Pode-se dizer que ele tem sido comum a todos os tipos de homens, de todas as condições, em todas as épocas e países do planeta, onde quer que a possibilidade objetiva dele exista ou tenha existido[.....] A auri sacra fames é tão antiga quanto a história do homem. Cada pessoa deve promover na própria vida as mudanças que deseja para a sociedade. Pensar diferente e agir diferente, para sentir de modo diferente o mundo, este segue em frente, sem pedir autorização e passagem. A mudança é singular, a educação é o meio, o tipo e forma é uma escolha pessoal. As religiões e teorias filosóficas tentam fornecer respostas às perguntas que mais inquietam o ser humano, mas em vez de fazê-lo de maneira simples, disponibilizam mais regras e conceitos, nem sempre de fácil avaliação e execução. O maior número de conflitos e violências existentes nos dias de hoje, são influenciados pelas religiões e crenças que interferem no comportamento das pessoas, possibilitando-nos acreditar na impossibilidade de reconciliação entre os humanos, não parecendo ser possível viver em paz, pelo menos neste mundo. Cada um necessita questionar mais, e procurar com esforços próprios as respostas coerentes sobre o estado de felicidade e sua possibilidade de conquista; sobre as virtudes e como elas interferem positivamente no bem estar das pessoas; numa vida justa e harmônica em benefício do coletivo; a importância da natureza e os benefícios do natural. Não existe um espaço formal e nem organização confiável que se disponha discutir sobre a arte de viver, é tudo um faz de conta que.... Não temos interesse e nem vontade de nos aprimorarmos, nos transformando com uma boa leitura e contemplação da arte. A beleza e o encanto das palavras proferidas com sabedoria não nos emocionam e perdemos muito com isso. O prazer tem que ser imediato, advindo preferencialmente de manifestação física. “Aquilo que o homem atual típico deseja conseguir com o dinheiro é mais dinheiro. Com o objetivo de ostentar e sobrepujar àqueles que eram então seus iguais [.....], Mais que isso: fez-se do dinheiro a medida aceita da inteligência. Aquele que ganha muito é esperto; aquele que não, não é. Ninguém gosta de ser visto como um tolo” Bertrand Russel (1930). Temos que responder, conscientemente, algumas perguntas: Quem tem sido os nossos mestres? O ser humano pode viver livremente, como um indivíduo autônomo, sendo responsável pelas suas escolhas e ações, agindo com tolerância em suas decisões em favor do grupo social para viver em harmonia com os outros, numa sociedade construída em torno do ideal de TER ? Somos capazes de entender que o dinheiro para a aquisição de bens materiais não é um fim, que é apenas um meio, mesmo que muito importante? Somos capazes de concordar que o desejo de posse é naturalmente insaciável? Que a falta de algum bem, mesmo que não essencial, pode provocar frustração e violência, tanto que algumas pessoas à tomam a força? Nietzsche em 1882 disse: “A mais diligente das épocas...a nossa...não sabe o que fazer com a sua deligência e seu dinheiro, exceto cada vez mais dinheiro e mais deligência: é preciso mais gênio para gastar do que para adquirir! – Bem, nós teremos os nossos “netos”!”. A Pirâmide de Maslow revela as necessidades humanas e as hierarquiza. TEMOS necessidades materiais básicas, como alimentação, moradia e como vivermos descentemente. Posteriormente, o homem deixa de ter essas necessidades comuns a todos os seres vivos, se distinguindo dos demais, pois surge um novo paradigma para sentir-se realizado e humano: a do SER. Este processo inicia-se pelo autoconhecimento para posterior aceitação; a pessoa precisa ainda aprender para se transformar, este é um processo, como já dissemos, de humanização, que nunca mais termina e exige compreender o outro para respeitar as relações. Se as necessidades básicas são a base da piramide, a busca e a realização do aprimoramento, como vocação, missão e a conquista dos desejos, são o ápice desta pirâmide. Com os sábios podemos aprender a arte em bem viver, que pressupõem amar, exorcizar os medos, administrar as frustrações, superar as dificuldades, aprender as virtudes, lidar com a sexualidade, a organização do trabalho e lidar com a morte como um evento natural. As pessoas com quem mais aprendi, foram aquelas que mesmo não deixando nada escrito, seus ensinamentos se reproduziram em outras pessoas de forma viva e chegaram até nós: Jesus, Sócrates e outros filósofos gregos, as escrituras e àquelas que vivem de forma minemalista. Os verdadeiros heróis falam com a razão e conseguem chegar ao coração, viveram pensando no bem comum. Eles se opõem ao que vivemos hoje, um mix mal dosado, com ações mercantilistas e materialistas, um fanatismo religioso e dogmático. “Natura simplicitatem amat (a natureza ama a simplicidade) Kepler (1619). Penso numa reconstrução pessoal, onde existe o TER e o SER, conforme a necessidade do momento e circunstâncias. Que o exemplo seja capaz de influenciar outras pessoas com atitudes sinceras; diferente da lógica praticada nas sociedades comuns, que nos conduz a uma crise de dimensões desconhecidas, pois elas mantém apenas o paradigma do TER, com poderes hipnóticos, produzindo pessoas obedientes ao sistema político, financeiro, ideológico e religioso. Lucrécio, no Século I A.C. , disse: “ Quando surgiu a propriedade e o ouro foi descoberto, a força e a beleza perderam muito do seu brilho. Pois não importa quão belo ou fortes sejam os homens, eles em geral seguem atrás do mais rico”. Independente do como se tornou rico, sobre isso falaram: Horácio (Século I A.C.) “Por meios honestos se você conseguir, mas por quaisquer meios faça dinheiro”. Juvenal (Século I A.C.) “ Quem liga para a reputação se consegue agarrar o seu dinheiro?”. “ É o amor ao dinheiro que causou esta transformação. Nos tempos antigos, quando se sabia apreciar a virtude por si mesma, as artes liberais e a ciência floresciam, e uma nobre emulação levava os homens a darem o melhor de si na busca de descobertas que beneficiariam os séculos vindouros........”. Petrônio (Século I D.C.). Na relação com o dinheiro é preciso considerar dois acontecimentos importantes, “como ganhar” e “como utilizar”. O problema não está no dinheiro e sim na forma do como nos relacionamos com ele. É ótimo ter dinheiro, para comprar o que necessitamos e sabiamente desejamos, mas principalmente para não ter que pensar nele o tempo todo. “Não cabe admitir mais causa para as ocorrências naturais do que aquelas que são a um só tempo verdadeiras e suficientes para explicar seus fenômenos. É com esse intuito que os filósofos dizem que a natureza nada faz em vão [....], pois a natureza se apraz com a simplicidade e não com a pompa de causas supérfluas” Newton (1687). Quando perguntaram a Sócrates: entre os homens mortais qual poderia ser considerado o mais próximo dos deuses em felicidade? Ele respondeu: aquele homem que carece de menos coisas. Somos reféns do desejo e, como simples aprendizes é bom nos eduacarmos, para limitarmos os nossos desejos ao universo de possibilidades, e ao conquistarmos também descobrir e revelar a importância do que esta conquista nos representa, no “quem” conseguimos nos tornar nesta relação, para celebrar a conquista do desejo e sentir o prazer que a vida nos proporciona. Temos que modificar o “sentimento” das afirmações contidas nas palavras de Aristóteles que disse “aquilo que os homens carecem é o que mais desejam” e, de Machado de Assis que sugere uma reflexão para tomarmos uma atitude de negação à frase: “o melhor dos bens é o que não se possui”. Cuidado: o mais presente em nós é o que nos falta e não o que temos. TER e SER constituem a natureza humana, o COMO é o que nos personaliza. As pessoas estão submetidas aos mesmos fatos, mudando apenas a forma de como se relacionar com eles. “Se voce deseja uma descrição de nossa era, eis aqui uma: a civilização dos meios sem os fins; opulenta em meios para além de qualquer outra época, e quase para além das necessidades humanas, mas esbanjando-os e utilizando-os mal porque não possui nenhum ideal soberano; um vasto corpo com uma alma esquálida” R.W. Livingstone (1945).

domingo, 9 de dezembro de 2012

Não existe o "nervo do prazer" ele é supra orgânico. É um complexo resultado de sensações; é um produto. É sentimento, é afeto, é contemplação, é alegria, é saudade... é amor. A faculdade de sentir é algo que se refere ao JUÍZO de GOSTO, ou seja a uma dimensão estética, depende da forma como nos relacionamos. São formas superiores do sentimento, dizem respeito á um "afeto desinteressado" (livre e espontâneo). O que se conta não é, necessariamente, a existência do objeto representado ou de alguém específico... as vezes é apenas uma situação.. caso contrário não haveria o chamado amor platônico, a lua não teria nenhuma representação para os amantes, a poesia teria que ser fixada no concreto, a felicidade teria que ser medida por instrumentos lógicos. Mas. no prazer, o que conta é o que o simples objeto ou o que uma pessoa representa para cada um. Quem podemos ser nesta relação!!!! Portanto, sentir diz respeito ao sujeito (a pessoa) e não ao objeto (o valor do objeto...até a caneta Bic de quem se ama é diferente). Quando o que domina é o querer (uma pessoa ou um objeto), parece que o sentir prazer necessita da posse. Mas na contemplação, na arte, o sentir pode manifestar-se livremente, porque independe do ganho ou da perda, e sim da sensação do momento, por isso é que o prazer estético é o lugar por excelência do sentir a vida. Por não buscar entender, nem obter, o objeto ou a pessoa, o prazer se fundamenta apenas na relação livre para gerar bem estar...o sentido estético não sintetiza nada, não conclui nada, nem determina nada, ele apenas sente,,,livremente...e nós nos agradamos ou não desta sensação...que tipo de transformação causou?

Mi Mancherai - Josh Groban - Il postino (El cartero de Neruda)

sábado, 8 de dezembro de 2012

Sempre é bom saber e considerar que: - as ideologias políticas, as religiões, o mundo da técnica, os filósofos desde a Grécia Antiga, os futurologistas.... sempre nos prometeram um mundo melhor e a nossa participação na construção coletiva de um universo mais justo e livre... ora, já perdemos o controle sobre o desenvolvimento do mundo...se é que um dia já tivemos. Suprema traição das promessas do humanismo, que apresentam inúmeras questões sobre as quais é necessário refletir profundamente. A liberdade e o bem estar não são produtos do intelecto....são consequências da vontade humana....de cada um. Os fatos, os eventos, os fenômenos...estão aí...para todos perceberem...e cada um dar a sua interpretação. O prazer de viver, em contemplar a beleza, se beneficiar da natureza e do natural, cantar e dançar, experimentar as diferentes manifestações da arte...não depende da administração política e nem de crenças religiosas...basta querer despertar para o festim de sentimentos. A vida é surpreendente...revela-se nos afetos.

The Romantic Strings Album #1 In Beautiful 1080p H.D.!

O homem é um "bicho" estranho: quando é jovem....está sempre idealizando um ALÉM melhor do que este mundo; quando idoso...procura resgatar...com nostalgia...paraísos perdidos. Parece ter dificuldade em descobrir e valorizar os encantos do momento. Eles existem e são reais. As coisas antigas nos parecem ser boas...porque já foram...e não foram tão boa como imaginamos. O que projetamos como um mundo melhor...por que não descobri-lo e viver agora? Não temos nenhum controle do futuro...apenas a consciência do momento.

Till! - Percy Faith, Roger Williams & Mantovani!

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Tudo o que conhecemos...desde uma percepção, uma sensação...até uma lembrança, um pensamento....é aprendido por nós por meio do nosso intelecto. Então, somente conseguimos conhecer aquilo que o nosso intelecto é capaz de captar...o que não pode captar, jamais poderá ser objeto de conhecimento. É achismo!!! O infinito é uma destas coisas. A liberdade, a imortalidade e Deus são outras que não podem ser aprendidas por nosso aparelho de pensar. Na verdade, NUNCA poderemos saber o que as coisas, real e efetivamente, são....apenas podemos saber o que são para nós...apenas.

The Melachrino Strings Orchestra Album #2 In Beautiful 1080p High Defini...

sábado, 1 de dezembro de 2012

O ser humano necessita de limites para se organizar, ao mesmo tampo que necessita da cultura, mas, ao mesmo tempo também é preciso suspender, provisoriamente, estes limites para exercer o excesso da vida, aonde habita o prazer em nosso corpo. Precisamos da natureza e dos seus excessos, para nos potencializarmos. É o que acontece na música, na dança, no canto, nas festas, no namoro, na poesia, no sexo.....

Gaucho da fronteira e Chitãozinho e xororó

terça-feira, 27 de novembro de 2012

A VIDA é um processo: de oxidação e combustão; de transformação; de aprendizado constante; que existe entre dois eventos naturais, como nascimento e morte....independente da explicação que podemos dar, segundo considerações influenciadas pelo momento e circunstâncias de cada pessoa, ela sempre será um processo de “comunicação e interpretações” infinitas. Nos comunicamos de várias maneiras e o tempo todo, a linguagem humana, é uma convenção, importante, de difícil entendimento, nem sempre bem realizada ou entendida, por isso devemos obserevar outras formas de comunicação, como a gestual, a facial, a corporal, o universo de intenções; a somatória delas permite uma comunicação mais ampla e menos reducionista do que as simples palavras. A vida tem que ser entendida como uma complexidade de acontecimentos, alguns independentes da nossa vontade e outros por nós provocados. Sensações e fatos compõem o currículo das nossas vidas, que se superpõem, que se significam, que se interpretam conforme nossas convicções (ideológicas e religiosas), em uma retroalimentação constante, em um jogo que podemos afirmar: FASCINANTE. Viver bem não é um direito da pessoa, é uma obrigação. Compete a cada um construir um conjunto de meios, materiais e mentais, para obter o bem estar como conseqüência das próprias ações. IMPORTANTE: como na letra desta música, as palavras não se relacionam com as "coisas", mas com o universo simbólico da nossa interpretação. Nada é mais significativo do que os diferentes entendimentos que podemos obter com as palavras, com a vida, com os gestos das pessoas, conforme a nossa vontade e necessidade.

MOACYR FRANCO - SOLEADO, A MÚSICA DO CÉU

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Por Mirian Goldenberg* No livro "A Velhice", Simone de Beauvoir, após descrever o dramático quadro do processo de envelhecimento, aponta um possível caminho para a construção de uma "bela velhice": ter um projeto de vida. No Brasil, temos vários exemplos de "belos velhos": Caetano Veloso, Gilberto Gil, Ney Matogrosso, Chico Buarque, Marieta Severo, Rita Lee, entre outros. Duvido que alguém consiga enxergar neles, que já chegaram ou estão chegando aos 70 anos, um retrato negativo do envelhecimento. São típicos exemplos de pessoas chamadas "ageless" ou sem idade. Fazem parte de uma geração que não aceitará o imperativo: "Seja um velho!" ou qualquer outro rótulo que sempre contestaram. São de uma geração que transformou comportamentos e valores de homens e mulheres, que tornou a sexualidade mais livre e prazerosa, que inventou diferentes arranjos amorosos e conjugais, que legitimou novas formas de família e que ampliou as possibilidades de ser mãe, pai, avô e avó. Esses "belos velhos" inventaram um lugar especial no mundo e se reinventam permanentemente. Continuam cantando, dançando, criando, amando, brincando, trabalhando, transgredindo tabus etc. Não se aposentaram de si mesmos, recusaram as regras que os obrigariam a se comportarem como velhos. Não se tornaram invisíveis, apagados, infelizes, doentes, deprimidos. Eles, como tantos outros "belos velhos" que tenho pesquisado, estão rejeitando os estereótipos e criando novas possibilidades e novas possibilidades e significados para o envelhecimento. Em 2011, após assistir quatro vezes ao mesmo show de Paul McCartney, perguntei a um amigo de 72 anos: "Por que ele, aos 69 anos, faz um show de quase três horas, cantando, tocando e dançando sem parar, se o público ficaria satisfeito se ele fizesse um show de uma hora?". Ele respondeu sorrindo: "Porque ele tem tesão no que faz". O título do meu livro "Coroas" é uma forma de militância lúdica na luta contra os preconceitos que cercam o envelhecimento. Tenho investido em revelar aspectos positivos e belos da velhice, sem deixar de discutir os aspectos negativos. Como diz a música de Arnaldo Antunes, "Que preto, que branco, que índio o quê?/Somos o que somos: inclassificáveis". Acredito que podemos ousar um pouco mais e cantar: "Que jovem, que adulto, que velho o quê?/ Somos o que somos: inclassificáveis". Mirian Goldenberg é antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É autora de "Coroas: corpo, envelhecimento, casamento e infidelidade" (Ed. Record).

PLACIDO DOMINGO (lista de reprodução)

terça-feira, 13 de novembro de 2012

O mais comum entre os humanos é a propensão à preguiça e o medo de errar, de não realizar a escolha certa ou não ter capacidade para se TORNAR quem gostaria de ser. A pessoa que não deseja pertencer à “massa”, que despreza a informação e odeia o conhecimento, acreditando que o “achar” é mais importante do que o “saber”, só precisa deixar de ser indulgente consigo mesmo; seguindo a sua consciência que grita, que clama ansiosamente: Sê Tu Mesmo!!!! Você é apenas isto, que agora fazes, pensas e desejas? O homem não é imutável...ele se torna. Toda vez que não estamos gostando de quem nos tornamos, a vida que deve sempre fluir de maneira livre, nos possibilita a transformação, nos tornando uma nova pessoa, disposta a lutar e conquistar o bem estar. Quem eu quero ser? De que maneira quero existir? Quem posso e quero me tornar? Como?

VOA LIBERDADE - JESSÉ

sábado, 3 de novembro de 2012

Assim é a vida: os que se foram... ainda existem Somos mais do que pessoas... representamos sentimentos Vivemos o presente...com saudades dos ausentes “Não é preciso que o universo inteiro se arme para esmagar o homem: um vapor, uma gota de água, são suficientes para matá-lo. Mas, mesmo que o universo o esmagasse, o homem seria ainda mais nobre do que o que o mata, por que ele sabe que morre, conhece a vantagem que o universo tem sobre ele; e disso o universo nada sabe. Toda a nossa dignidade consiste, pois, no pensamento”. Blaise Pascal. No processo de evolução, a primeira consciência que o homo sapiens (o homem que sabe) teve como manifestação humana, foi a consciência da morte, iniciando o processo do pensamento organizado, o diferenciando dos outros animais. É apenas o conhecimento de que somos seres finitos, temporais e, a certeza da morte, mesmo não pensando constantemente nela (o que deve ser a prática natural, mas, o idoso que se nega a morrer, é tão desavisado quanto o jovem que se nega viver), que o homem se deparou e reflete sobre a vida, o impulsionando a viver da melhor maneira possível o momento, pois, sabe que não tem o luxo da eternidade. Os outros animais, por instinto, sabem que vão morrer, de medo se protegem, terminando ai o processo do pensamento racional (conforme instintos característicos de cada espécie). Quem poderia nos ensinar o essencial, a viver e morrer? Vida é o conjunto das funções que resistem a morte, é TUDO que acontece entre o fenômeno da concepção (processo de organização) até o final do processo (da desorganização), com causa conhecida e determinada ou não. A vida é, portanto, um processo constante de novos nascimentos. Neste processo de renovação, ela traz sempre a exigência da morte. Se renova para logo morrer. Vida é um fenômeno que NUNCA deixa de criar, é uma invenção, mas sempre destrói tudo que gera, nos obrigando escolher novas invenções ou reproduzir com aprimoramento o já realizado. A percepção da morte, a percepção da vida, como um ponto de vista pessoal, visionário e subjetivo, fez nascer o indivíduo no humano, o que o tornou e continua mantendo as características de pessoa, entre as diferentes espécies e na mesma espécie. Somos todos iguais, mas diferentes uns dos outros, em alguns detalhes de comportamento, na forma de pensar e agir, para sentir o mundo. Como indivíduos, nascemos da consciência sobre nós mesmos. E a partir desta percepção, avaliamos as relações com as pessoas e as coisas. É este tipo de inteligência, consciente de si e que vai além da simples sobrevivência (diferente dos outros animais, que vem a morte apenas como um perigo, e por isso a evitam), que somos caracterizados como seres, conscientemente, racionais (alguns estudiosos referem que já abandonamos os instintos originários, neste processo de transformações e mutações sucessivas), capazes de criarmos diferentes situações para realizarmos escolhas e, contemplarmos a vida enquanto existir. Considerando: - o conhecimento da brevidade do momento, - que a via é, também, uma medida de tempo, - a consciência que é bom ser livre e desfrutar de “boas” oportunidades, - que temos a capacidade contínua de criar meios que nos possibilitem vivermos momentos de alegria e bem estar... é que construímos mecanismos que buscam vencer a morte, de prolongar a vida com qualidade, de criamos mitos, de exercer convicções religiosas e ideológicas que nos convêm, ou, estimular a vida com a arte do encontro e podermos nos revelar com uma nova descoberta. Temos que promover a alegria, com bons momentos, para compor a nossa história, de quem somos eternos reféns, porque: mesmo não vivendo no passado, ele insiste em viver em nós. Alexandre Bósio, Haroldo Pinto da Luz Sobrinho, Mario Gazzola...ainda existem, enquanto existirmos. Abraços Do velho e sempre jovem Mingrão

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O mundo é como vemos, sentimos, imaginamos e acreditamos

Ele se revela através de fatos e sensações pessoais. Ele também é como imaginamos e acreditamos ser. Podemos considerar, que o mundo atual, é o resultado de ações que envolvem: edificações, construções de diferentes formas e culturas, pensamentos nem sempre bem elaborados, ações comprometidas com ideologia nem sempre claras e objetivas, promoção de inventos e utilização de tecnologia... Intencionalmente ou não, estes fatos nos afastam da natureza, das suas circunstâncias e conseqüências, universo este que foi durante milhões de anos o nosso albergue e cenário de vida, nos beneficiando da qualidade do natural e de todo processo espontâneo e organizado da natureza. No processo, sempre existente na vida, fomos nos transformando, até nos tornarmos o que hoje somos e, construímos, gradativamente, o mundo em que vivemos. Neste processo é obrigatório considerarmos a capacidade natural de adaptação do “homo sapiens” até nos tornarmos uma pessoa, e, como ser humano também continuamos a ter uma capacidade de adaptação superior de todos os outros animais. O homem moderno sente-se desafiado pela natureza e busca superá-la; necessitando para tornar-se vitorioso dominar a si mesmo, negando atualmente, pelo pensamento formalizado em padrões, seus sentimentos e paixões. O que importa é vencer, “o que”, “para que”, “como” e “conseqüências” não são considerados como importantes e os fins sempre irão justificar os meios. Deixamos de ser um “animal natural”, para sermos um “animal racional”, chamado de ser humano, independente do processo de humanização. Assim a cultura atual inventa maneiras em escala crescente em nos tornarmos cada vez mais racionais. Gosto da palavra “transformação” e seu significado; gosto também da condição do que nos “tornamos“ considerando meios, circunstâncias e conseqüências; e principalmente, “de que maneira quero existir” e “como conseguir”? O animal racional, o ser humano atual, tornou-se violento, fanático, egoísta, manipulador, competitivo (não apenas pela sobrevivência, mas também pela vaidade da vitória e superação sobre os oponentes, independente da forma). Será exagero dizermos que levou o planeta próximo da exaustão dos recursos naturais e indispensáveis à vida? Interessante, nestes últimos cem mil anos como homo sapiens (o homem que sabe), tentamos nos livrar das características do animal natural, harmonizado, para nos tornamos humanos, e com um olhar histórico sobre as civilizações e manifestações de sociedade, este animal racional tem-se revelado mais cruel do que antes, apesar do trabalho isolado e altruístico de voluntários, em diversos programas de reponsabilidade social. É preciso refletir: o que nos tornamos e gostaríamos de ser? Esse é o melhor processo para a transformação, garantindo um excelente modelo de humanização? Como exercer a própria escolha e inventar uma vida de liberdade, para conquistar uma condição de bem estar mais freqüente? As neuroses bio-psíquicas-sócio-existências nos permitem afirmar que de perto ninguém é normal. Quanta insanidade, de comportamento individual e coletivo! Hoje, a grande maioria das pessoas é obrigada a utilizar algum tipo de medicação ou fazer uso de alguma forma de terapia para suportar os transtornos do dia a dia. O fanatismo ideológico e religioso, sem nenhuma lógica e coerência; o número crescente de pessoas que dependem da utilização de drogas; a violência urbana que já chegou na zona rural com sintomas de requintes; a corrupção sem controle (todo poder tornou-se corruptor, o absoluto é capáz de corromper absolutamente); significativas igrejas e as instituições públicas tornaram-se apenas balcão de negócios; as doenças eventuais tornaram-se crônicas, devido alimentação inadequada, estilo de vida inconveniente e vida sedentária. É bom lembrar que o processo de humanização, independente da forma e conteúdo, nunca termina. O homem é um projeto inacabado, em construção constante (segundo Millor Fernandes uma macaco que não deu certo). Neste processo de sucessivas transformações, para nos adaptarmos às diferentes relações e caracterizar o tipo de vida, surge uma inquietação: quem temos nos tornado, conforme oportunidades e circunstâncias? Para depois termos que responder a duas perguntas que nunca nos abandonam: 1) De que maneira quero e posso existir? Conseqüentemente a (2), o que devo fazer á partir de hoje para construir e manter o meu amanhã? Os legados deixados para as gerações que se seguem, parece nem sempre ter sido o melhor. Nós deixaremos, além da tecnologia e modernidade, várias crises, como a moral, econômica, ambiental, ética, legal....de princípios. A sociedade atual privilegia a conquista, independente do que, para que e do como, citado anteriormente. Nunca estivemos livres do caos sócio-ambiental e financeiro e nem soubemos administrá-los. A vida sem angústia pela sobrevivência, sem sofrimento durante o processo de conquista, sem dor pela perda de pessoas e coisas, sem trabalho para a realização, sem mobilizar as próprias forças para superação, foram apenas promessas não cumpridas, pelas crenças ideológicas e convicções religiosas. É tudo mentira. Nos tornamos um animal racional que ainda sabe, elabora e pensa. O que cada um pode se tornar não é uma resposta única, traduzindo uma proposta coletiva. É individual, no máximo para pequenos grupos sociais, como a família. Cada um escolhe no quer ser e como existir, dentro de oportunidades e circunstâncias. Podemos ser uma máquina complexa de viver ou de fazer dinheiro; de satisfazer-se apenas com o lazer e a aparência ou se encantar com uma vida suficiente e minimalista; de buscar a vitória a qualquer preço ou ser livre para realizar escolhas que possam garantir o prazer.... As vezes nos acordamos nos escombros de uma sociedade que tinha um grande sonho: viver uma vida duradoura, eternizada sem sofrimentos. Algumas pessoas ainda buscam paraísos perdidos, como em filmes. Acredito termos hoje o maior de todos os conflitos: aonde podemos colocar as nossas esperanças? Até mais complicado e significativo do que aceitar a morte como fenômeno natural, para os simples mortais como nós. Como seria viver numa condição eterna? Que comportamento teríamos? O que fazer, quando fazer, para que fazer algo? Que sentido poderá ter? A angústia de ser finito, temporal, me impulsiona para o aqui e agora. Se fosse eterno, sem noção de tempo e referência de momento, adiaria os compromissos, sem determinação imediata para a obtenção do prazer e manutenção do mesmo. Passado para ser recordado, presente para ser vivido, futuro para ser imaginado, não existiriam. A vida nos convida e nos obriga, ao choro e a alegria; aos encontros e desencontros; ao sucesso e fracasso; ao amor e solidão. O recheio da vida é a utopia e a incoerência. Viver é aventurar-se, dançando na corda bamba das incertezas. Estamos condenados a criar, inventando e realizando escolhas para a construção de caminhos e neles encontrarmos o nosso destino. Somos livres e não seres determinados, robotizados, com chip que determina, préviamente, as nossas condutas. Não sabemos quase nada da vida, nem aonde e como chegar a algum lugar, vamos inventando as situações, sem lenço e documentos geográficos, nem históricos, apenas assobiando e cantando, compartilhando a alegria. O que pode justificar uma existência? A resposta é pessoal, inventiva e visionária, cada um acredita como convém ou consegue realizar. Nos organizamos em cima dos nossos defeitos, nunca, jamais, em cima das nossas virtudes. Nesse processo, um dos principais aliados é o conhecimento sobre a brevidade da vida, é a passagem criadora e predadora do tempo, mesmo considerando que ele nos espolia orgânicamente. Temos outros aliados, como a ansiedade devido a falta de alguma coisa, que necessita ser controlada, para isso a vida necessita da nossa participação, de forma útil, para a superação dos transtornos; o gênero humano é formado na ausência do alimento, do afeto, da segurança...e carregamos uma sensação de abandono e menos valia, principalmente os arrogantes e presunçosos. Que loucura, o sofrimento é um aliado, sem ele jamais seriamos vencedores, superando as dificuldades e tudo o que nos impede de experimentarmos bons momentos (a fábula de Phenix explica). A ansiedade, a dor, os diversos tipos de sofrimento nos ensinam que devemos nos preparar, convenientemente, para a batalha, sem desistir jamais. Só a vitória interessa, sem causar danos. Cada pessoa e grupo social, pode inventar mundos melhores. Menos desiguais, pensando na liberdade e bem estar de todos, cada um fazendo o que lhe compete na organização social. Toda pessoa é uma pequena sociedade, aonde desenvolve diferentes personagens. Assim são os animais, que vivem em grupos ou só. Nós os humanos, desaprendemos a viver em matilha e, quem assim desejar, necessita aprender de novo, aonde cada um tam um papel para executar. A matilha é constituida de serviços, tornando-se imperioso primeiro servir para depois ser servido. A moeda que tem mais valor na matilha, ou em qualquer grupo social, é a vida, enquanto existir. Que bom seria, se fossemos estimulados na prática do “pensamento crítico” e “criativo” para o bem comum, construindo uma vida livre, disponibilizando a alegria e o bem estar (vivendo apenas com os conflitos naturais). A principal fonte do sofrimento existencial é a percepção de si e do mundo, melhor seria ignorá-los completamente, como fazem os animais na natureza. Temos que elaborar: o ver para enxergar (as vezes mesmo enxergando nada vemos); o interpretar para agir (assim são os protagonistas da própria vida, os demais são coadjuvantes, quase sempre indesejáveis); o sentir para experimentar o prazer (somos eternos aprendizes do desejo). Quanto parodaxal é a existência do animal racional, pois o que o faz sofrer é o pensamento (o modo de pensar), mas é justamente o pensamento (o padrão construido), que permite superar o sofrimento. Somos o que pensamos ser? “Penso então existo” ou “existo aonde não penso”? O pensamento construtivo, as oportunidades disponobilizadas ou as que fazemos acontecer, as circunstâncias, a vontade e determinação, nos possibilitam conquistar o que desejamos nos tornar, sem ser levado pela vontade dos outros ou do acaso. Conduzo ou sou conduzido? Se for conduzido que seja um fardo leve de ser carregado. O pensamento é o fenômeno que confere dignidade às pessoas. Possibilita encontramos os meios, convenientes, para superarmos as dificuldades, o sofrimento e as dores ocasionadas pelos trantornos. Não há necessidade de fingirmos que o sofrimento não existe. O pensamento é capáz de elaborar a salvação de muitas dores, pois nos possibilta sonhar, de criarmos uma utopia própria, de inventar o que nos convém para o momento, de mudarmos de direção mostrando novos caminhos, e, produzir “ilusão”o principal combustível da vida. É possível acreditar que podemos experimentar a alegria, mesmo existindo o sofrimento. Este sentimento é balizador e pode nos impulsionar a viver bem, livres dos medos, sempre presentes nas nossas vidas. O pensamento positivo é construtivo, é terapêutico por ser tranformador, e nos estimula a conhecer as nossas capacidades interiores e disponbilizá-las como o mais significativo dos aliados. O pensamento não é fixo e nem imutável, ele sempre trabalha, a favor ou contra nós. Cabe a cada um decidir a sua aplicação, conforme resultado desejado. Mais produtivo do que negar o sofrimento ou transferi-lo, para outra pessoa ou entidade sobrenatural, é desenvolver a cultura e a prática de superação, utilizando a capacidade de ser um vencedor, em função das forças existentes no interior de cada pessoa, natural ou divina. Forças que não podem ser ignoradas ou sub estimadas. Não é saudável vivermos a cultura de “contra o natural e a natureza”. Voltar ao útero materno é voltar-se para os benefícios da natureza, do homem e seu universo. Viver bem, implica em viver uma vida afirmativa. Existe significativos e produtivos meios transformadores, considerando quem desejamos nos tornar e de que forma podemos existir. Mais importante do que valorizarmos, apenas, um corpo temporal, com declínio inevitável por mais que seja possível adiar, e uma vida marcada pela superficialidade, é beneficiar-se do natural contemplando a natureza, praticando ações construtivas, valorizando a vida, apreciando as diferentes expressões de arte e entendo o trabalho como missão ( independe da categoria), substituindo a ação da obrigatoriedade (eu tenho) pela espontaneidade do querer (eu quero). Se somos o Homo Sapiens, o homem que sabe, temos que saber. Saber é diferente de achar que sabe. O saber nos proporciona a sabedoria, o achar que sabe nos mantém na ignorância. Mas.....se és feliz na ignorância, para que tornar-te sábio? O saber gera conflitos. As pessoas mais felizes que encontrei na vida foram pessoas simples: -os sábios, que sabiam apenas o que lhes fazia bem e os aplicavam, normalmente eram pessoas com cultura do homem como “animal natural”; - as velhinha viúvas, com os filhos criados e independentes, e, livre do mala do seu marido (o homem casa para mudar de mãe), estas eram pessoas com a cultura do homem como “animal racional”. Não importa o tipo de animal que nos tornamos ou nos tornaremos, o que importa é sentir-se livre dos complexos e das sensações que nos incomodam, e, construirmos um mundo para experimentarmos mais frequentemente o estado de bem estar. Ideologias e convicções religiosas são apenas um meio e nunca um fim em si mesmos. É cada um, seu próprio início, meio e fim. Felizes são aqueles que conseguem compartilhar a vida com alegria.

domingo, 28 de outubro de 2012

Viver bem depende de uma nova educação, possível e adequada

Viver bem depende de uma nova educação, possível e adequada. Atualmente, o homem acredita que irá conseguir criar um mundo melhor do que o oferecido pela natureza, de quem é originário. Acredita que a autonomia da razão, que a ciência e a tecnologia, conseguem criar um mundo melhor do que os benefícios oferecidos pelo natural. Submete a natureza conforme as suas vontades, buscando dominá-la e corrigi-la. Para isso tem a necessidade de modificar a própria existência, pois desde a sua origem e transformações, o homem esteve em harmonia com a natureza, de quem é conseqüência. Neste processo de relacionamentos, somos submetidos à transtornos constantes. Os efeitos colaterais desta empreitada e distanciamento da origem, de tudo que é fundamentalmente primitivo, construímos um novo universo. Temos que conviver com catástrofes ecológicas; guerras constantes entre culturas e religiões; nos tornamos intolerantes, com crescentes prejuízos das relações sociais. A alegria espontânea pela contemplação do que pode nos trazer tranqüilidade é vencida pelas diferentes síndromes depressivas; fabricamos mais remédios do que prazeres. Trocamos a liberdade pela necessidade do “eu tenho que”. Aos dias somam-se na sociedade mais psicopatas do que possibilidades de conquistarmos o bem estar. É o final dos tempos? O mundo inicia o processo de falência das funções orgânicas que caracterizam a morte? Acredito que pode estar acabando apenas para algumas pessoas, este ideal equivocado de mundo. O conhecimento da realidade e as sensações, podem influenciar o comportamento de algumas pessoas, possibilitando a construírem, com vontade e determinação, uma forma mais simples de viver, livre e alegre. As pretensões de um mundo com determinados valores, específicos, escolhidos por outras pessoas, de comportamento “sóciopata” na sua maioria, tem influenciado as nossas vidas e ainda constroem os nossos caminhos, referindo-se como tendências, e, quem não segui-las experimentará uma sensação de menos valia, acreditando que os outros vivem bem, menos nós mesmos. Pensamento e comportamento, no mínimo, insanos. Surge, de maneira implícita, quase sempre oculta, mas importante e reveladora, pessoal ou familiar, algumas perguntas, cujas respostas serão determinantes e orientadoras para as tomadas de decisão: Que valores, eu quero para mim e minha família, estimular? Que conceitos e tendências, eu quero ou queremos, não mais considerar? Ao que devemos rejeitar, conscientemente? O que é sim? O que deve ser não? Que caminhos escolher para materializar o próprio destino? No primeiro momento nos parece impossível as mudanças que queremos fazer, para corrigir a rota. Há uma sacrificante tradição da cultura de consumo e valoração do banal. Somos influenciados pelo desejo daqueles que controlam a mídia. Nem nas eleições o fazemos com liberdade e coerência ideológica, votamos nos personagens maquiados pelos marqueteiros. Nos acostumamos com as crises: morais, legais, institucionais, da natureza, pessoais.... Não há a mínima possibilidade de reinventarmos o mundo, mudando coletivamente as pessoas. Compartilhamos uma cidade, um estado, um país, mas nunca uma comunidade. A sociedade é a família e as pessoas afins, no mais é tudo loucura, distantes dos mesmos valores e da realidade. Considerando um dos pensamentos de Nietzsche e adaptadas por mim, concluo que: temos a necessidade da arte, em qualquer forma ou expressão para nos emocionarmos com o que consideramos, pessoalmente, de beleza; mas, só precisamos de uma pequena parte do saber. Há uma expressão latina que diz: Primo, non nocere (primeiro, não saber). Não temos a mínima possibilidade de eliminarmos o sofrimento (físico e emocional), mas podemos superá-los, com o conhecimento e a possibilidade constante de transformação, como seres naturalmente mutantes, à partir do desejo e, conquistado pela aplicação dos meios disponíveis e devidamente escolhidos. A única possibilidade de transformação é com a educação, que se renova e aprimora. A mudança exige uma nova educação que implica na apropriação de uma utopia, na valorização das pessoas envolvidas no processo, na construção de meios facilitadores para fluir uma nova estética de vida, que priorize a liberdade e o bem estar.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Estar bem consigo mesmo....é o ideal para o comportamento humano. - A sociedade exige resultados, não se preocupa com os meios utilizados para a obtenção das conquistas e, muito menos valoriza o empenho de quem conseguiu (mesmo que licitamente). - A maior poluição do planeta é a falta de uma educação que respeite as necessidades e os direitos do outro (só a educação transforma). - São ineficientes as palavras “mal” ditas, aquelas que não brotam do “coração“ (o lar sincero dos sentimentos). - As ações que não iluminam caminhos e possibilidades, apenas aumentam a escuridão (melhor que nunca existissem). - O mundo não exige das pessoas grandes obras, apenas que realizemos o melhor, de nós mesmos (cada um só pode dar o que tem, precisamos nos aprimorar sempre). - O ideal de sabedoria nos convida, a pensar e agir de forma a dizermos não, conscientemente, a tudo que nos impede de sermos úteis (para que todos possam se beneficiar das nossas palavras e ações). - Mais importante do que vencer os oponentes, é superar a si mesmo, tendo como referência valores e princípios éticos (vencer os monstros que habitam o nosso interior). - Felizes são aqueles que vivem cada dia, com satisfações originadas pelo próprio dia, contemplando os prazeres que nos são oferecidos naturalmente, celebrando todas as conquistas com alegria, por mais simples que sejam (a vida é feita de pequenos acontecimentos diários). - Que nos esforcemos para manifestar a gratidão pelas nossas qualidades, sempre existentes, e não a insatisfação constante, das poucas coisas que nos faltam (é mais presente em nós o que pouco que nos falta do que o muito que já temos). - As nossas decisões podem implicar em erros, estes podem ser corrigidos, que o façamos com sabedoria (como na vida as regras não são claras, então tudo é possível; podemos até esperar o inesperado). - Humildade e Arrogância são atitudes que se anulam. A humildade, junto com a tolerância ao diferente (mas, justo), é o último degrau da sabedoria (compreender, respeitar e aprender com as diferenças). - A vida é aprendizado, o presunçoso nunca aprende, além disso é uma presença indesejável (mais sabe, aquele que acredita que pouco sabe e procura aprender) . - O bom é ser livre, sem ira, sem estar algemado, preso às coisas mundanas, que não nos transformam positivamente, mesmo que os outros não entendam o porque, pois: a vida é injusta, a avaliação dos outros é temerosa, dizemos e fazemos as coisas nem sempre analisadas coerentemente, o ser humano tem critérios próprios (mesmo que racionalmente ilógicos), é superficial nas suas observações, o achar é mais importante do que o saber, não considera as categorias intermediárias, e, temos que nos justificar para os indivíduos e algumas pessoas? Tenho “medo” das escolhas e do julgamento dos outros. Prefiro dar satisfação ao meu universo, sem envergonhar a criança, o jovem, que também eu sou. Fazer o certo, parece ser bom para a sociedade, mas, é excelente para quem o pratica. A Carminha da novela Avenida Brasil, mesmo fazendo tudo errado, foi péssima como mãe, esposa, patroa, amiga...matou, roubou, mentiu, enganou, manipulou ....conforme seus interesses, de forma egoísta e criminosa, tornou-se celebridade para a maioria dos espectadores, mesmo antes do último capítulo e seu suposto arrependimento. A Janaína que fez tudo para salvar o filho, abrindo mão de prazeres e da liberdade pessoal, dignificando o seu gesto com o anonimato e a indiferença do que os outros poderiam pensar, manteve-se distante das avaliações sobre um justo comportamento. Portanto, o bom é viver o melhor possível para a gente mesmo, sem se preocupar com a opinião dos outros (conseqüência dos critérios subjetivos dos outros).

sábado, 20 de outubro de 2012

Sempre é tempo Sem considerar o que o mundo possa pensar, é bom avaliar o que o futuro pode trazer. Luar e canção, ainda são moda para o amor revelar. O universo sempre manifestou-se “bem vindo” aos que amam, sentimento lírico, para os amantes, sinfonia de violinos continuará a tocar. Coração ansioso, vestido de esperança, com prazeres que nos emocionam. Amam-se de noite, de dia também, vida que contempla o bom viver, iluminados pelo brilho de olhares, que traduzem delicada melodia. Compartilham o tempo, sem ficar só e nada temer, tendo tudo para vencer. Rompendo o medo, com a coragem de viver com liberdade, propicia: realizar os sonhos, tantas vezes adiados ou negados e, outros imaginados. Passeando, um no corpo do outro, desejo que na verdade, jamais silencia. É bom revelar um amor á tempo escondido, possibilitando florescer, num encontro, que excede ao tempo, para ser eterno enquanto existir. Coração inquieto, que perseguiu o seu afeto, para melhor viver. Tantas coisas adoráveis quero te dizer e realizar, enquanto namoro com o teu jeito, menina e mulher. Sou homem e menino, na forma de cantar e amar. Tenho na memória a beleza do dia, esperando por nós, o calor da noite para nos renovarmos e construirmos novos sonhos. Vida compartilhada, momentos encantados, sonos velados e sentimentos raros. A vida passa na noite, no dia correndo, eu com você, você comigo uma vida singular, só nossa, solitária com nós dois. Deixando o coração cantar e dançar, a música do olhar,o meu romance contigo.

domingo, 14 de outubro de 2012

Recados...Carminha, Tufão, espectadores da traji-comédia da Avenida Brasil

As relações humanas, são hoje mais intrigantes do que o mundo dos negócios. O amor e suas fantasias, são assuntos refletidos e considerados apenas em alguma forma de expressar uma obra de ficção. Foi sempre assim? Temos sido protagonistas de estórias criadas pelos romancistas, cancioneiros e poetas? Hoje, as noites são iluminadas pela tecnologia, não mais pela luz das estrelas e do luar. Antes presentes, nos vestíamos de contemplação e nos emocionávamos com os desenhos no céu. Carregávamos um olhar inquisitivo, semelhante das crianças, que os adultos quase nunca sabem responder. Somos um ser social, em busca das respostas, cujas perguntas influenciam as nossas vidas e até nos conduzem. Haviam pessoas, valorizadas e amadas, em que um simples momento de suas presenças valiam por uma situação, que nós eternizávamos a emoção,transformada pela imaginação. O que pode ter mudado? A vida é uma invenção. Caso não gostemos de uma situação, é prudente desinventar. Interessante, o menino e o adolescente que em nós nascia, nunca mais morria. Histórias, sim e não vividas (apenas imaginadas), hoje são rememoradas e celebradas pela saudade e, nessa magia a nossa alma se recompõem. Não vivemos do passado, ele que vive em nós. Nessa relação de criança, infante, adolescente, adulto jovem, velho sonhador, reside uma harmonia criadora. Cada um, ao seu tempo, em diferentes momentos, do mesmo dia, realizam o que mais gostam, dentro de nós. Brincam, se escondem, se revelam, trabalham, cantam velhas canções, cada um visita o seu passado e timidamente nutrem o seu amanhã, com horas alegres, minutos introspectivos e desejos que nunca deixam de existir. Cada fase tem o seu mistério e magia, para os mais atentos. Sempre possibilitando nos renovarmos, inventado o próprio dia, em melhores condições para compreender e respeitar, aceitar e valorizar, gostando da pessoa em que conseguimos ser. No mundo atual, aconselha-se não mais amar, se possível apenas ser reconhecido. As relações são estruturadas no medo, de ser enganado. Efetivamente, quem ama não engana, revela-se sincero, entendendo que a construção de uma relação para a conquista dos prazeres, originados desta relação, é conseqüência de atitudes que caracterizam a apropriação da pratica e manifestação da confiança. A sociedade vive um tempo desconstruindo instituições e mitos, pois, mais prometeram do que cumpriram; não lamento. Fico preocupado porque estão esquecendo de celebrar “valores éticos“. Algumas das importantes e boas coisas estão sendo perdidas. São imposições de uma nova geração. Não consideram as possibilidades históricas, de quem prometeu como irá cumprir ? As palavras inconseqüentes e a demonstração tecnológica, ainda são creditadas, estão costurando pelo avesso. Nem tudo mudou como gostariam, apenas escrevem as mesmas coisas com atitudes diferentes. Racionalmente, perguntas e respostas parecem ser as mesmas. O homem muda, para ficar igual. Não existe nada mais importante do que a pessoa humana. Tudo mais é ferramenta, nem boa ou ruim, depende apenas do uso que será feito dela. Para reverenciar a vida é necessário valorizar a pessoa e suas necessidades, muito mais do que a técnica, o método, o sistema, o recurso, o delito justificado, as corporações... As avaliações são sempre subjetivas, por isso precisamos desenvolver a prática da transcendência, colocando-se no lugar do outro. Estamos em permanente questionamento, e, de vivermos possibilidades. Na vida tudo é possível, depende apenas da vontade de cada um e das circunstâncias. Não podemos, no desenvolvimento do processo de existir e suas transformações, não considerarmos a necessidade de resgatarmos as questões essências da natureza humana, que implica em conhecimento (“achar” é a manifestação de quem ignora), lembrando que o homem é um ser histórico, e, quem não sabe de onde e nem como veio, nunca saberá de como ou para aonde irá. Somos: a resposta natural da concepção no encontro de dois gametas, a multiplicação e transformação das células, a energia que confere vida, a manifestação de amor da natureza, um projeto em construção, uma máquina complexa de pensar e agir para sentir a vida, o conjunto das funções que resistem a morte... impelidos a viver em plenitude, compreendendo para ser compreendido, respeitando para ser respeitado, amando para ser amado... Portanto, quem trai, trai a si mesmo. O traído é quem confiou, fez o certo, errado é o que trai. A conseqüência da traição, depende dos envolvidos e das circunstâncias. O difícil será voltar a acreditar, mesmo para o corno do Tufão. O traído deve ajuntar o que sobrou, retirar a expansão cuneiforme da cabeça e a sensação amarga do coração, vestir-se de coragem e seguir em frente. Sempre haverá algo ou alguém que compensará o relacionamento. Viver é bom, sempre vale a pena, é preciso buscar para encontrar os motivos.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Não sei porque o ser humano carrega tantas inquietações para si mesmo!!! Aprendemos muito cedo que nesta vida devemos amar, perdoar, esquecer o que nos incomoda e valorizar o que nos faz bem. Temos conflitos em saber: é melhor expressar sentimentos ou revelar-se indiferente? Decidir segundo o desejo do coração ou pelo que a mente imagina? Enfim é muito melhor não fazermos hoje o que podemos nos arrepender amanhã. Mesmo não sabendo tudo, o comportamento humano e o julgamento, dependem do bom senso. Quando jovens, olhando a lua, local aonde se escondem os amantes, dizíamos sem falar, para a pessoa amada: “leva-me contigo pela noite eterna, eu te ofereço todo carinho que possa existir; dá-me a tua mão e leva-me contigo, para aonde quiseres ir, feliz te seguirei; perco a minha felicidade toda vez que te perder”. Quantas vezes estivemos na companhia de alguém, com vontade de amar outrem? Pensávamos sem declamar e outros já estavam a cantar: “seria diferente se a pessoa que a gente gosta, gostasse um pouquinho da gente; sentindo o que a gente sente, para conhecer um pouquinho da gente e, assim de repente, ficaríamos contente.” Soberba vontade de um beijo, mesmo sem permissão, na esperança que todos compreenderiam este gesto. Esses, efetivamente, são os silêncios que dizem tudo e as palavras, se não forem bem ditas, não dizem nada. O amor é um sentimento solitário, até quando compartilhado. Na vida profissional nos esforçamos para sermos conhecidos, raramente pensamos em ser uma pessoa que vale a pena os outros conhecerem. Gostamos do aplauso e do tratamento VIP, nem sempre merecido, pagando as vezes o preço da dissimulação, esquecendo que a avaliação sincera é a que fazemos de nós mesmos. A maioria das pessoas passam a vida sonhando, sem vontade e tempo para viver, pelo menos alguns dos seus sonhos, aqueles cujo conjunto justificam uma existência. Por quais caminhos temos andado? Da aparência? Do consumo exagerado? Da arrogância? Da desesperança? Temos SOFRIDO MUITO pelas poucas coisas que nos faltam, a maioria sem consistência para garantir a liberdade e a conquista do prazer transformador, e nos ALEGRADO POUCO pelo muito que somos, considerando que somos o que temos, sem valorizar o mais importante... que temos exatamente o que somos...esse é o maior patrimônio de uma pessoa, o que ela é e não o que tem, a posse é circunstancial e só tem valor se for para o aprimoramento pessoal, familiar e social. Nos contentamos no que vemos, nas pessoas e coisas, sem nos preocuparmos em saber o “que” e “quem” são, como conseqüência a sua importância, traduzindo ser mais significativo o que achamos do que o conhecimento real. Gostamos das coisas que o dinheiro compra e não da utilização das nossas forças interiores para a conquista. Vencedor é quem tem dinheiro, não importa a origem, e não aquele que mesmo diante do fracasso aparente é capaz de juntar as suas forças e traçar um novo desenho de ações para buscar a única coisa que interessa na vida, a vitória em ser pessoa. O tempo, a unidade de marcar a vida, para mim passou, rápido e sem a possibilidade de sentir o gosto pelo luxo da eternidade. Pesquisas sobre o comportamento revelam que as relações entre as pessoas, são construídas hoje sobre o medo de ser traído, de alguma forma. O elemento mais importante é a confiança, numa seqüência de valores o amor é o que menos importa. O amor não sustenta mais uma relação, e sim a pratica de um “condomínio”, envolvido pelos interesses no êxito da administração da vontade imediata das pessoas. Mais importante não são os sentimentos e sim as condutas racionais, mesmo que irracionais na sua maioria. A vida segue em frente, precisamos nos adaptar às novas gerações e fenótipo humano. Não tem mais sentido recordar alguns dias, o amor que sentia, e os dias não conseguiram matar. O que fazer deste coração, que disponibilizou como abrigo todos os sentimentos? Praticamos, de maneira concreta e impensada, a celebração da arrogância, da manifestação superlativa dos egos. Não estamos mais livremente disponíveis para as relações, elas traduzem um comportamento presunçoso dos envolvidos. Temos prestigiado aqueles que constroem os seus poderes sobre os sonhos destruídos de valores e princípios éticos que respeitam a vida humana e a comunidade aonde vivemos, preferimos partilhar apenas uma cidade e não uma sociedade. As pessoas sinceras, honestas, confiáveis, são vistas como elementos estranhos, relíquias de um passado superado. O paradigma atual é o paradoxo, sendo a pratica de vida diferente do discurso proposto. Hoje não sabemos, efetiva e claramente, o que queremos. A incoerência é uma virtude. Culpamos tudo e a todos pelos nossos transtornos, nunca o maior culpado, a gente mesmo. Lembro as palavras de Sêneca: “ Se viveres de acordo com as leis da natureza, nunca serás pobre; se viveres de acordo com as opiniões alheias, nunca serás rico”. Precisamos “prestar” contas das nossas atitudes para pessoas sem a mínima condição, intelectual e moral, para avaliá-las. Alguns procuram dominar as pessoas sem antes corrigirem a si mesmo. Querem conhecer outras dimensões, outros universos, sem saberem aonde e como estão. Gradativamente, as pessoas vão se distanciando das maravilhas que existem no interior de cada ser humano, falam em viver o momento mas não se apropriam da riqueza do seu dia, esquecem que qualidade de vida não se compra e sim se conquista, esquecendo que cada pessoa é um ser histórico (o que vivemos hoje é fruto das experiências anteriores e, a forma de como viveremos o amanhã depende do que plantarmos hoje). Não há sentido positivo na vida se não compartilharmos nada de bom com os outros, funcionando apenas como um organismo oportunista e predador. A pratica dos bons costumes sinalizam que sempre iremos precisar, uns dos outros. A vida é serviço, é servir, é ser útil, amando ou apenas administrando as relações. O trabalho é missão. Há limites em toda forma de viver, antes, durante e depois da moda deste tempo. O dia deve ser nutrido pela esperança, nos mobilizando para vivermos bem hoje e melhor ainda amanhã. Se tivesse que eternizar uma fase da vida, qual você eternizaria? Por que?