quarta-feira, 11 de setembro de 2013

A Criança Interior

“A amargura de um homem é, com frequência, o aturdimento petrificado de uma criança”. John Bradshaw em seus escritos fala das terapias que realizou com adultos que entraram em contato com sua “criança interior”. Os pacientes tinham reações inesperadas e, às vezes, assustadoras: muito choravam, outros se sentiam como se tivessem voltado para casa ou sido encontradas após terem estado perdidos durante décadas, enfim, a maioria carrega uma sensação de abandono (sensação esta que carregamos vida a fora). John tenta encontrar dentro do ser humano a criança ferida e traumatizada que causa os transtornos na vida adulta. Uma vez compreendido o motivo desta sensação e recuperada, a criança voltará aparecer em nossa vida de maneira espontânea quando rirmos ou estivermos diante de algo que nos fascina. Em contrapartida, a criança ferida aparecerá em nossa vida quando nos sentirmos incapazes de descumprir uma determinada convenção social que consideramos absurda, mas acatamos com medo da consequente represália, sendo submissos e obedientes ao que não acreditamos. Ninguém é mais partidário às reformas do que as crianças e os adolescentes. Quando nos tornamos adulto, influenciado e trabalhando para uma sociedade insana, somos obrigados a mudar o nosso modo de pensar e agir. Mudamos tanto que nem sempre nos reconhecemos, mas, anestesiados e adestrados seguimos em frente, sem nos reconciliarmos com a criança que convivemos diariamente. No entanto, para que seja possível encontrarmos a criança interior, temos de tomar as decisões de um ponto de vista de adulto para não nos tornarmos ridículos, mesmo diante de uma sociedade caduca. O ser humano é um eterno aprendiz do desejo e, o que busca incessantemente é a realização do prazer, atendendo primeiro as suas necessidades básicas – como todo ser vivo –, depois ele deseja o supérfluo porque o essencial ele já tem. O universo da criança está na transformação da fantasia em realidade. O seu maior desejo é brincar, pelo simples ato de se aventurar e se realizar. Semelhante à natureza que ama a simplicidade, a criança se encanta com o simples e se beneficia de tudo que é natural...até ser pervertido pela sociedade de consumo exagerado. Disse Schopenhauer: “Quem quer que tenha algo verdadeiro a dizer se expressa do modo simples. A simplicidade é o selo da verdade”. Quando crianças, somos a nossa própria história, posteriormente somos a história de tantos outros personagens, trilhamos caminhos que não nos pertencem porque não foram construídos por nós. Como disse Millôr Fernandes: “Nascemos originais e morremos plágio”. José Saramago em um dos seus ensaios nos aconselha viver de uma forma sem nunca escandalizarmos a criança com quem compartilhamos a nossa vida. Devemos sempre protegê-la. Disse ainda que um dia sairia deste mundo de mãos dadas com esta criança.

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