sexta-feira, 21 de março de 2014

“A vida não é apenas para ser vivida, é para ser celebrada”

A única possibilidade de celebração e encantamento pela vida é quando nos tornamos uno com o mundo. Preservando o que somos, aceitando o que conseguimos ser, procurando nos transformar sempre, para nos adaptarmos às circunstancias e perceber o que existe de melhor em todo acontecimento. As religiões foram criadas na esperança de oferecer alívio e esperança às pessoas em conflito. Em todas elas encontramos conceitos e aspirações comuns: amor, perdão, compaixão, caridade, formar uma unidade com a igreja – com Deus e/ou o universo. Estas são condições que nos proporcionam sentimentos, nos tornando uma unidade, até podendo dizer que não somos mais nós que vivemos e sim Deus (ou outra denominação) que vive em nós. Este é um estado de plenitude, de paz interior e sabedoria produtiva, pois, deixamos de buscar ou construir um sentido natural e pessoal na vida e, o encontramos dentro de nós. Quando meditamos (a oração, como a reza, é um mantra) nos sentimos, efetivamente, parte de um todo e os sentimentos nos transformam, não existindo, por alguns momentos, significativa diferença entre as pessoas e as condições de vida e, nos sentimos aceitos e acolhidos, compreendidos e valorizados, amados e fortalecidos, onde ninguém mais nos julga e a natureza celebra a exuberância da vida. Este sentimento de acolhimento, é um êxtase que proporciona uma paz, que ultrapassa todos os outros prazeres. Saber que fazemos parte de algo maior que nós, nutre a nossa esperança (que sempre precisamos ter um lugar para coloca-la) e, nos possibilita desenvolver a tolerância e a humildade. Na palavra religião (que vem do verbo latino religare, que quer dizer “religar”) existe um mandamento: a necessidade de nos religarmos, novamente e sempre. Pois, como dizia Schopenhauer, que o homem faz parte da vontade, do todo, mas, ao nascer, com o corte do cordão umbilical, se separa deste todo. É essa conexão com o todo, chamado de Cosmos por uns e de Deus por outros, que perdemos e devemos procurar. Com a meditação, como as diferentes manifestações das artes e o exercício de toda criação, podemos recuperar esta sensação de plenitude que nos aconselham os mestres, para celebrar a vida. No romance de Hesse, O lobo da estepe, o protagonista dá uma visão dessa busca espiritual: “O homem não é de forma alguma um ser FIRME e DURADOURO, é mais um ENSAIO e uma TRANSIÇÃO, outra coisa que não uma ponte estreita e perigosa entre a natureza e o espírito (no sentido de espiritual e não doutrinário). Ao espírito, a Deus, a determinação mais íntima o impele; à natureza, em retorno à mãe, o atrai o mais íntimo desejo: entre ambos os poderes vacila sua vida tremendo de medo”. Allan Percy nos aconselha: uma cura de serenidade é transitar de forma natural por essa ponte entre a natureza e o espírito, ao compreender que um é o espelho do outro. Por isso, muitos místicos asseguram que, ao buscar Deus, encontraram a si mesmos. Só pode existir celebração, no encontro e permanência de Deus (o todo, a natureza e o natural, o Cosmos...) na nossa vida. Fora isso é vida comum, apenas passando pela vida, até com pequenos prazeres, efêmeros e sem consistência.

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