quarta-feira, 26 de março de 2014

“Alguém pode se entediar por ser feliz”?

Disse Rousseau: “Não vejo ao meu redor outra coisa além de motivos de contentamento, e não estou contente [...] sou muito feliz e me entedio”. Hermann Hesse faz referência de que o homem exige a felicidade, mas não a suporta por muito tempo. É a felicidade ou a monotonia que nos revela que algo não vai bem ou falta alguma coisa? Aldous Huxley criou romances futuristas, nos quais as pessoas tinham perdido a liberdade de suas escolhas e consequentemente de suas ações, e passaram mecanicamente a fazer parte de um mundo marcado por uma sociedade que proibia e vigiava, mentia e manipulava, enganava e prometia uma falsa felicidade. A sociedade era uma farsa, com características do “me engana que eu gosto”. Sabemos que vive muito mal uma pessoa que é sempre infeliz, e que, temos muita dificuldade em viver bem, mesmo tendo motivos para ser feliz o tempo todo. Dizia Sócrates: “o homem é um ser eternamente insatisfeito”. Quando alguma coisa muito boa acontece a uma pessoa, como ganhar um prêmio inesperado num sorteio ou loteria, tem-se a falsa sensação que ela será feliz para sempre; o que efetivamente não acontece, existindo apenas sensação de euforia temporária e depois surgem as preocupações e as dificuldades naturais da espécie, da pessoa e suas relações - motivos de quem vive em grupos sociais. Em alguns momentos podemos nos sentir a pessoa mais feliz do mundo, acreditando que este estado de felicidade poderá ser duradouro, mas, é efêmero, temporal e ocasional. Por mais dinheiro que uma pessoa tenha, ela não pode comprar o passado e modificá-lo e, nem comprar o tempo futuro e desenhar nele apenas os eventos que podem proporcionar prazer. Problemas sempre existirão e, quem tem muito dinheiro, passa a ter outros problemas que antes não tinha. Como a nossa vida não é linear e fatos sempre acontecem, a felicidade, como a infelicidade, não são definitivas, não são eternas. Nossa vida é um turbilhão de acontecimentos e sentimentos, de ensaios e desejos, de erros e acertos, de crenças e decepções, de conquistas e fracassos, de risos e de dor, de ganhos e de perdas, de vitórias e renuncias. Na vida temos que aprender tudo e sempre, para nos transformarmos no que desejamos e conseguimos ser, pois: DEPENDEMOS SEMPRE DAS CIRCUNSTÂNCIAS. Pascal Bruckner afirma que a sociedade criou uma exigência constante de felicidade, no seu livro “A euforia perpétua”, ele afirma que nos sentimos obrigados a estar sempre contentes (o que é impossível), demonstrando alegria e disfarçando a tristeza. A frase “Sejam felizes para sempre” é imperativa, mesmo que simbólica, tornando-se um desafio e uma obrigação de conquista. Quando o melhor seria desejar e dizer: “procure identificar e valorizar o que existe de melhor em todas as coisas, em cada fase da sua vida”. O sofrimento, a ansiedade, o medo, a insegurança, a baixa autoestima, a precipitação, a falta de tolerância, as dificuldades... fazem parte da vida de todas as pessoas e necessitam ser superadas. Não temos como suprimir os fatos que produzem transtornos nas nossas vidas. Mas, podemos nos esforçar para apreciar o que temos de bom, de positivo, para conviver em paz, o maior tempo possível, com a pessoa que nos tornamos. ESTE É UM IMPORTANTE DESAFIO, capaz de transformar os nossos dias, para nos capacitar a aceitar a vida como ela consegue ser e, superar os momentos de tédio e sofrimento. DESEJAR E PROJETAR, ESPERANDO ACONTECER UMA FELICIDADE MUITO GRANDE E DURADOURA NA NOSSA VIDA, É O MAIOR OBSTÁCULO, PARA EXPERIMENTAR E VALORIZAR A FELICIDADE CONTIDA NA SIMPLICIDADE, DA VIDA DIÁRIA. Só podemos encontrar o prazer de viver, uma vida interessante, mesmo que não seja longa, quando nos encontramos conosco mesmo, sem sentir saudade de nós mesmos, sendo apenas no AQUI e AGORA. Sem idealizar paraísos, mas encontra-lo sempre, sem projetar para o amanhã, que nuca chega.

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