domingo, 16 de março de 2014
“Dedico esta reflexão à criança que fomos um dia e nunca deixamos de ser”
Fernando Pessoa fala da pessoa adulta que, nos tornamos e que por erro, substituiu a criança que vive conosco e esta criança é quase sempre preterida.
Heráclito comenta que os adultos, são na maioria, crianças caprichosas. Obrigam os outros estarem de plantão para atenderem as suas necessidades e desejos desnecessários. Gostariam que seus problemas fossem resolvidos por decreto.
José Saramago diz que devemos fazer de tudo para não escandalizar a criança que vive conosco e, um dia, de mãos dadas, sairão juntos deste mundo.
Hermann Hesse diz: “Todas as crianças, enquanto ainda vivem o mistério, têm sempre a alma focada nas únicas coisas importantes: NELAS MESMAS e na secreta conjunção com o mundo que as rodeia”.
Na dualidade que caracteriza a existência humana, a criança manifesta o seu comportamento e a sua satisfação em duas situações distintas: de um lado ela tem a necessidade e desenvolve a capacidade intelectual de conhecer, de identificar, de descobrir, de se aventurar para se surpreender com as descobertas, e, por outro lado, tem a necessidade de se autoconhecer para expressar sua identidade em relação às pessoas e o mundo, de se autoafirmar e superar a sensação de menos valia e seus medos.
Infelizmente, num determinado e indefinido momento, abandonamos a nossa infância. Antes éramos criança...a que buscava ser. Depois somos adultos...pessoa pronta. Pronta no que e para que? Como avaliar a qualidade desta prontidão? O que somos agora?
Não podemos esquecer, sobre pretexto nenhum e nem com desculpas injustificadas, que parte de nós, sempre terá a necessidade da descoberta (independente da existência do medo) e as outras características da fase em ser “criança”. Em cada adulto vive uma criança, adormecida ou não, que acredita na magia do mundo e da vida, e, a leva a sério, pois, quando brincávamos assumindo algum personagem histórico ou de ficção, nós o encarnávamos e exercíamos de fato o seu papel. Quem não foi herói ou princesa?
Ninguém mais dúvida que o ser humano nasceu para o movimento. Para a busca da realização dos seus desejos, portanto, o sonho, a esperança, a ilusão, a possibilidade, a conquista, a resolução das necessidades...são os motivos que nos mobilizam. Por isso, a natureza nos aparelhou com sentimentos que nos possibilitam nunca perder a capacidade de sonhar, de imaginar, de criar, de acreditar, de desejar, de surpreender a si mesmo e os outros. A natureza nos obriga, para vivermos melhor, nunca deixarmos de existir esta criança que pensa, age e sente a vida conosco.
Adulto insatisfeito é aquele que não cuida da criança que ainda é. Precisamos caminhar sem esquecer o combinado, nesta relação transcendente, entre o adulto que age e a criança que sente. É uma relação de dupla mão.
Sempre será bom, na caminhada, olharmos o que ficou para trás no caminho, como caminhante que relaciona os desejos e vocação, com as escolhas e conquistas, e, rever o nosso rumo e fazer ajustes.
Quantas pessoas descobrem a liberdade e o prazer quando realizam, na fase adulta, os seus sonhos de infância e juventude?
Cuidado, o passar do tempo e os compromissos do cotidiano, são os grandes aliados da preguiça e inatividade e, das desculpas para não realizarmos o que é importante e está esquecido.
Voltar a olhar e/ou continuar olhando para a vida, com os olhos de uma criança e a atitude responsável de um adulto, nos possibilita encontrar e viver, o ser verdadeiro e completo que existe em cada um de nós.
Lembrando que às vezes e quando as circunstâncias permitirem, ou, quando a condição do momento se tornar necessária pelo estresse e pela necessidade de um novo começo - para revisar e revitalizar a nossa vida - é bom abandonarmos, temporariamente, as nossas tarefas e obrigações, como também as nossas desculpas que servem de escudo para não fazermos o que é importante e está abandonado, para darmos atenção e realizar os cuidados que esta criança necessita e, que, nos impulsiona em busca da harmonia em viver conosco mesmo e influenciar positivamente a vida dos outros.
O ESSENCIAL NÃO É VIVER, É VIVER BEM.
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