Querido aluno...meu amigo:
Feliz “olhar” novo sobre velhos e ultrapassados conceitos em saúde, para proporcionar um ano novo e ações diferentes. É bom abandonarmos as roupas velhas (que muito bem nos serviram) e adquirirmos uma nova forma para começar uma nova vida (tem que ser melhor do que antes).
Precisamos responder, responsavelmente, á uma pergunta que surge na nossa adolescência e nunca mais irá nos abandonar: “quem eu quero ser?” “de que maneira eu quero existir?”
Talvez pela necessidade subjetiva em ser “feliz”, a primeira e única vocação que tive foi “trabalhar” com pessoas. Sou seduzido em refletir sobre o comportamento humano e sigo sempre encantado, promovendo e recuperando a saúde (do indivíduo, da família e da comunidade), tratando doenças, reabilitando seqüelas (congênitas ou adquiridas).
Na Fisioterapia aprendi que “se” a vida é o conjunto das funções que resistem á morte, não basta apenas estarmos vivo, o importante é viver bem, e esta condição implica em VIVER COM ALEGRIA. Mais importante do que uma técnica, um recurso, um método, é a condição de vida das pessoas, que teimosamente acostumamos chamar de pacientes, quando o certo é ele ser o “agente” das suas conquistas. Somos apenas o facilitador neste processo. Ás vezes considerado anjos, como resposta ás orações e clamores dos necessitados. Fisioterapia é serviço...é servir...é ser útil.
Por ser uma ciência de síntese, a Fisioterapia pode ser aplicada em qualquer circunstância. A sua missão sempre será a busca pela excelência na vida, considerando as limitações existentes, de origem orgânica, financeiras, sociais e nas relações de trabalho. Estou convicto após aplicação e observação dos resultados, que a Fisioterapia é uma ciência eficiente e uma arte eficaz como agente facilitador na ESCOLA DA SAÚDE. No exercício das minhas atribuições profissionais, entendi que para atingir o meu objetivo, era fundamental considerar a Fisioterapia como um processo de transformação, e, mais do que ser um terapeuta da vida, deveria ser um educador de pessoas (o que exigia ter uma visão clara e ampla sobre o ser humano, sem ser reducionista e tecnicista); porque mais importante do que contemplar a existência de um órgão doente, mais do que entender a pessoa em sua totalidade (não somos apenas composto por órgãos isolados e unidos por fios imaginários), deveria observar o meu “paciente” em seu próprio mundo (de que forma ele vive). O mais importante para os meus “pacientes”, como para os meus alunos, o que precisam aprender, efetivamente, é como viver.
As nossas estratégias de trabalho são dinâmicas: AVALIAÇÃO, DIAGNÓSTICO TERAPÊUTICO e PROGRAMA PARA SER EXECUTADO COM O “PACIENTE”. Elas devem ser construídas conforme evidências realistas (temos que trazer soluções simples para problemas complexos), devem ser discutidas com as pessoas envolvidas no processo e aplicadas convenientemente. Temos que observar a execução da proposta, avaliar os resultados, fazer correções quando necessário e recriar o plano de trabalho. Que a preocupação pela técnica, pelo recurso, pelo método, jamais nos permita esquecer do mais importante “estamos envolvidos com pessoas”, que têm necessidades naturais e que respondem conforme as circunstâncias.
O ser humano só existe como pessoa quando está em relação; daí a importância em direcionarmos as nossas ações possibilitando manter o indivíduo integrado à sociedade ou reintegrá-lo o mais rápido e em melhores condições possíveis. Precisamos promover AJUSTES, no ambiente familiar e nas condições de trabalho.
Sempre fui crítico severo do modelo de saúde focado na doença e não na promoção e manutenção da saúde (saúde e doença são palavras antagônicas, são situações que se sobrepõem, pois, se existe uma não existirá a outra; é mais produtivo tratarmos a saúde do que a doença). Fiz parte como conselheiro, do Conselho Estadual de Saúde, órgão do Ministério da Saúde e provocava os outros conselheiros chamando-os de profissionais da doença e compunham o Ministério da Doença. A inquietação deve fazer parte de toda formação.
A OMS mudou o conceito de saúde ao afirmar que não era apenas ausência de doenças, mas, também o completo bem estar psico-sócio-existencial (envolvendo moradia, lazer, satisfação no trabalho, sentido para a vida...). Hoje acredito que mesmo nas condições adversas, devidamente controladas e ajustadas, as pessoas podem desfrutar de momentos de imenso prazer, com a sensação feliz de quem desfruta de pleno estado de saúde (é uma sensação supra celular).
Considerando o fato que o ser humano é eternamente insatisfeito (Sócrates), em determinadas situações é positivo esta inquietação pela insatisfação, pois nos possibilita outras realizações, percebendo o mesmo fato com um olhar diferente. Não somos os mesmos de sempre. Somos obrigados a nos superar e buscarmos os meios que permitam uma transformação para a necessária mudança de paradigma.
É possível as pessoas viverem com alegria mesmo com limitações de função orgânica? Mesmo sendo portadoras de síndromes ou transtornos as pessoas podem ser alegre? Podemos considerar como portadora de saúde uma pessoa que tem a doença e/ou ansiedade controlada com terapia medicamentosa ou outra qualquer? O que é melhor ter um corpo perfeito ou viver com alegria? É possível qualquer pessoa ter momentos plenos de ausência de conflitos e sentir-se bem do jeito que é? Seremos tolos em acreditar que os nossos sentimentos são lineares e podemos viver sempre com alegria. É uma simples ilusão acreditar que viver bem é possível (mesmo que para poucos), o tempo todo. Segundo Clarice Lispector “ninguém vive bem...vive-se”.
Esta possibilidade de mudança de paradigma, em buscar contemplar a saúde e a possibilidade de viver com alegria, uma vida nem sempre biológica, psicológica e socialmente perfeita, é oportuna e necessária na promoção da qualidade de vida. Pois depende, essencialmente, da forma como cada um pode existir e conferir um sentido especial para a própria vida. Viver bem é uma conquista e podemos ser (conforme a vontade de cada um), como pessoa e profissionais da fisioterapia, os reais colaboradores neste processo de transformar a forma de pensar, de agir e de sentir a vida (própria e dos outros). Ser fisioterapeuta implica em ser uma pessoa diferente. Não somos apenas supressores de sintomas; não somos mais um profissional tecnicista, organicista e reducionista. Somos pessoas interagindo com pessoas, em busca das realizações, mas, que necessita das participações individuais (cada um fazendo o que lhe compete fazer). Temos como ideal a satisfação de todos que participam do processo, os interessados nos resultados na busca incessante em viver, em viver bem, em viver com alegria, conseguindo configurar um sentido para a vida, entendendo as ações como missão, em benefício do bem comum. O bem coletivo é mais importante do que o bem individual. Somos profissionais “abertos” ao conhecimento do novo e “comprometidos” em fazer o melhor na construção do próprio projeto profissional (que sabemos que nunca deverá estar pronto). Considerando que cada pessoa pode viver muito bem, independente da forma e condições, somos obrigados a nos livramos constantemente dos modelos, preconceituosamente estabelecidos, entendendo que a forma de viver é única para cada pessoa. Bárbaro! Somos terapeutas, educadores, artistas, ministro de confissão religiosa, conselheiros, amigos, protetores...
A vida é uma invenção (Ferreira Goular) pessoal e intransferível. Podemos apenas considerar a vida de um, como orientação e exemplo, para o outro. Tive oportunidade de encontrar pessoas com limitações significativas, tornando-se exemplos de superação, nos informando que uma vida alegre sempre será possível, quando atribuirmos um sentido para a vida, caso contrário ela nunca terá sentido, será apenas um mistério, mesmo para aqueles que se consideram “normais” e “simplesmente o máximo”. Experimentar momentos de felicidade não é exclusividade de quem tem muito dinheiro, um belo corpo e uma vida aparentemente organizada; isso de nada adiante se não houver “ajuste” emocional, característico daqueles que ao realizarem as suas atividades pessoais e profissionais, entendem o significado delas e as realizam com prazer.
Como os animais, somos movidos pelas necessidades, porque a realização delas nos conferem a sensação de segurança e obtenção do prazer (de quem somos eternos aprendizes).
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